Ainda menino, jogando bola naquele campinho cambeta. Nos seus oito anos. Manezinho era um garoto como outro qualquer.
Traquinas, cabulava aulas para jogar futebol. Imaginava-se, quando de mais idade, na juventude que se avizinhava, ser um jogador famoso. Sendo reconhecido como um tal Neymar. Que ganhava fortunas naquele cai cai sem parança. Nos dias de agora prestes a se aposentar já que seu futebol gracioso perdeu a graça. De tantas baladas que viravam noitadas. Em boas companhias femininas. Bom que se diga.
Manezinho era um garotinho de pernas finas e sorriso largo. Era bom de bola, diga-se de passagem.
Mas nem tudo que reluz se torna ouro. Manezinho, nascido e crescido na roça, tinha de ajudar ao pai nas tarefas diuturnas. Era um tal de acordar bem cedinho. Dar de comer a porcada faminta. Dar milho as galinhas e colher os ovos antes que o gambá comesse antes. E, se não bastante tanta correria tinha de ir ao curral. Acompanhando seu pai na ordenha das vacas.
Manezinho teve sua iniciação sexual como quase todos os meninos da sua idade que moravam por ali.
O seu primeiro amor foi uma cabrita. Que berrava por detrás da bananeira. Não carece dizer o motivo.
Aos doze anos se encantou por uma égua de boa marcha. Depois do almoço ia com ela a um matinho escuro. E, por cima de um cupinzeiro morto fazia amor sem beijar-lhe o focinho.
Já mocinho Manezinho foi levado, pela vez primeira, a um puteiro das vizinhanças. Na hora negou fogo devido à ansiedade que tomou conta dele.
O tempo se foi. Manezinho virou Mané. Um bom partido sempre cercado de moçoilas casadoiras. Mas sabido escolheu a vida de solteiro. Dizia, de sorriso bem contido: “ casar não me apetece. Se me casar vou perder a paz”.
Mas o tempo não permite parança. Mané envelheceu. Enricou.
Vivendo solitário decidiu se juntar a uma mulher. Eram muitas candidatas. Cada uma mais recomendada.
Aos quase oitenta elegeu a Margarida como sua concubina. Mas pouco durou essa união.
Ela roncava. E soltava flatus. Mané não suportou tais modos incômodos.
Desiludido da vida Mané pensou em procurar outra. Foi ao encontro de outra rapariga naquele mesmo bordel dos velhos tempos.
Foi lá que se deu o reencontro. Era Joana a mocinha com quem teve a primeira relação sexual. Abortada pela ansiedade. Aprendeu o que seria ejaculação prematura naquela mocinha não mais pudica que o fez sonhar com um depois.
Joana era tudo com que sonhava. Levou-a pra casa. Deu-lhe vida nova. Mas Joana já era bem rodada. Com muitos quilômetros de estrada.
Na cama ela era um furor. Na cozinha uma quituteira perfeita. Na lida com as vacas uma ajudante da prateleira de cima. Era tudo que queria. Quase ao fim de sua vida.
Um dia passei por ali. Em visita ao meu amigo Sô Mané.
Encontrei-o tomando café. Meio esquisito. Ele ainda jogava uma bolinha. Meio manquitola fingia que corria naquele campinho cambeta dos tempos de menino.
A sua amada Joana estava ao seu lado. Toda solicita assentada em seu colo.
Ela estava quase nua. Vestida apenas numa camisolinha transparentinha. Ainda se podia ver suas formas perfeitinhas. Seios durinhos. Nádegas empinadas. Cinturinha de viola enluarada.
Sô Mané me pareceu apaixonado pela não mais donzela. Babava, balbuciava palavras desconexas.
Em certo ponto da prosa pediu a Joana um remedinho azulzinho que estava acima do rabo do fogão a lenha. Ela o deu com um afago carinhoso.
Não tive como fugir da pergunta: “ Mané? Vosmecê já dependurou as chuteiras”?
E ele me respondeu num sorrisão.
“Que nada. Ainda bato um bolão!”
Joana sorriu também. E levou o Sô Mané correndo pro quarto antes que o efeito do azulzinho se desfaça.