Com a sofisticação crescente do ato médico nos dias atuais, as máquinas têm ocupado cada vez mais o nosso espaço, em detrimento às vezes da qualidade do atendimento, passando aos pacientes uma falsa impressão de qualidade, ou modernidade, oferecendo aos profissionais uma concorrência de certa forma desleal, injusta e perversa.
O médico moderno, bem formado e humanizado, deve colocá-la sempre a seu serviço, nunca dela se servindo em detrimento dos princípios da ética, do moral, com o intuito de lucros fáceis, com indicações médicas imprecisas, sem respaldo cientifico, sempre colocando o bem estar do paciente acima de tudo e de todos.
Agir com ética e decência, sempre deve ser a máxima de cada profissional, pois, somente desta forma o médico estará imune e a frente dos interesses puramente mercantilistas, colocando seu saber no degrau mais alto, o seu conceito livre de arranhões ou injustiças.
Paulo Expedito Rodarte de Abreu – autor da monografia – Perfil do cálculo ideal para Litotripsia Extra Corpórea.
O tratamento do cálculo renal e das vias urinárias sofreu considerável evolução desde a antiguidade até os dias de agora. Na idade média este tratamento era cruento, com elevado índice de morbidade e mortalidade. A evolução dos procedimentos cirúrgicos, aliados a uma segurança anestésica, fez com que a cirurgia aberta conquistasse seu espaço, e persiste viva até os dias de hoje.
A partir de 1955, o acesso renal por via percutânea, realizado por Goodwin e cols, teve sua evolução até o final da década de 70, com novos aparelhos, em procedimentos minimamente invasivos.
Só em 1980, uma nova e revolucionária modalidade terapêutica para os cálculos urinários foi desenvolvida na Alemanha por Chaussi e cols, com o nome de Litotripsia Extra Corpórea por ondas de choque. Esta se baseia na geração, concentração, e focalização a distância das ondas de choque que podem ser de três tipos: piezzo elétricas, eletrohidráulicas, e eletromagnéticas. O fenômeno físico que ocasiona a fragmentação do cálculo é a rápida formação de um gradiente de pressão quando as ondas de choque concentradas e focalizadas encontram sólidos de diferentes propriedades acústicas.
As vantagens desse tratamento são inúmeras. É um procedimento ambulatorial, sem cortes ou aberturas de cavidades, método de curta duração, de rápida recuperação, complicações reduzidas, tornando possível a abordagem de cálculos que antes se deixavam morrer com o paciente.
Os índices de insucesso não inviabilizam o método, pois o retratamento aumenta consideravelmente sua eficácia. Deve-se, portanto, evitar-se suas contra-indicações.
O primeiro caso foi realizado em Munique, em 1980, com o aparelho HM1(human model 1), sendo que até 1982 foram realizados 200 tratamentos. Em outubro de 1983 foi desenvolvido outro modelo de litotritor, o HM3 com início de produção em série. A FDA aprovou em dezembro de 1984 o aparelho HM3 da Dornier, para uso experimental nos EUA em seis centros médicos. No Brasil a LECO chegou em primeiro lugar em Salvador, em 1986, no Hospital São Rafael com o aparelho da Wolf.
A LECO chegou e mostrou a que veio. O custo é incomparavelmente mais baixo que os demais procedimentos. A recuperação para o trabalho salta aos olhos, de imediato. Podem dizer dos insucessos, que não são impedimentos. O retratamento deve ser encarado como possível, e necessariamente alertado aos portadores. As complicações são de pouca conta. As contra-indicações, tais como a hidronefrose e principalmente a pionefrose, devem ser taxativas. Um RX recente deve ser imprescindível, quando a máquina usa a radioscopia. Um bom preparo também facilita a localização do cálculo e aumenta a eficiência do método. A sedação se faz necessária, com drogas cada vez mais seguras, como o Dormonid e o Fentanil. Na minha experiência de mais de mil casos, foi dispensado o concurso do anestesista.
O método é bom. Como péssimo é ter um cálculo. Eu mesmo fui paciente, e fiz em mim mesmo a Litotripsia. O caso ideal, com maiores índices de sucesso, é o cálculo de mais ou menos 1 cm, na pelve renal, sem obstrução importante, com pouca radiopacidade. Quando não se resolve de primeira, os retratamentos são a salvação da lavoura. E até quando ir, ao tentar resolver o imbróglio? Um paciente precisou de oito aplicações, num cálculo coraliforme. Aconteceu neste caso especial uma história linda, de resolução de infertilidade. O pobre portador do cálculo, um magricela oriundo de zona rural, casado há oito anos, sem filhos, depois da oitava sessão trouxe um filho nos braços, e no rim doente, uma ausência completa de cálculos residuais. Foi uma limpeza completa, e, ainda de quebra, a litotripsia fez-lhe um bem dos diabos. Um filho tão esperado, efeito colateral da LECO, do qual não se tem relato.