Ilustre desconhecido

Nem sempre se consegue notoriedade em vida.

Somente após a morte tornamo-nos conhecidos.

Dizem, com alguma frequência, a seguir do nosso passamento, ainda defuntos frescos à hora de nosso velório: “que pessoa boa ele ou ela era. Desprendido, bom marido, melhor esposa. Vivia para ajudar aos outros sem pensar nas próprias necessidades.”

Mal sabem eles, uma vez de olhos cerrados. Ouvidos moucos. Dentro do ataúde não iremos escutar encômios ou insultos. E não iremos saber se as lágrimas derramadas no entorno de nosso caixão serão de verdade ou mentirosas. Pra quem já morreu tanto faz como se desfez o que pensam da gente. Já que pro outro lado da vida não se leva nada. E apenas ossadas brancas serão jogadas dentro de um saco preto. Pois nosso jazigo logo vai ser ocupado por outra pessoa que perdeu a vida.

O conceito de celebridade, segundo a fonte consultada diz: pessoa amplamente conhecida, famosa e renomada, frequentemente através da mídia, seja por seu talento em uma área especifica, como esportes ou entretenimento, riqueza ou posição política e outros fatores.  O termo vem do latim “celebritas”.  Gente que é celebrada justa ou injustamente. Gente pobre via de regra não fica célebre. E nem é celebrada com festas nababescas regadas a champanhe e caviar.

Já meu amigo, pobrezinho que nem espiga de milho já dura de tanta secura. Cujo nomezinho é tão pequenininho que duas letras apenas lhe bastam com sobra.  Elezinho foi batizado por Ló. Pois Aloísio ficava grande demais. E ele, de tão pequenino sua medida não passava de dois palminhos esticados dos pezinhos a cabeça. E o que tinha de grande era a cabeçona. Na qual cabia, com fartura, duas melancias das graúdas. Além de dez abóboras bem maduras. Lozinho era um menino pra lá de esforçado. Aos menos de cinco aninhos já ajudava o pai no roçado.  Ficou mestre em usar a enxada. Não fazia feio na lida com o gado. Veio dai o termo de vara de toca gado. Foi num dia chuvoso. Com a estrada enlameada. Que nosso herói tocava suas vaquinhas mesticinhas estrada afora. E Lozinho espertinho, usando sua varinha de marmelo. E as vaquinhas à mercê de um piriri da brota. Pastando aquele capim viçoso acabaram por estrumar nelezinho. Que chegou a casa todo cagado. O nome pegou na hora-vara de tocagado.

Tenho por mim que não se é valorizada gente de real valor. Valorizam-se os tais influenciadores digitais. Que, na minha insalubre opinião não são boas influências pra ninguém.

Deixam no ostracismo do esquecimento pessoas que trabalham do sol a dormir da lua. Elas não têm nenhum valor.

Noticiam-se mortes de celebridades. Ilustres desconhecidos nem são lembrados quando partem ao além.

Foi ontem que me deparei com Lozinho descansando um cadiquinho. Elezinho estava exausto.  Depois de um dia inteiro na labuta.

Elezinho cochilava à sombra de uma amoreira. O sol lhe fustigava a moleira.

Trocamos meia dúzia de palavras. Enquanto eu falava ele escutava.

“Lozinho. Como vão as modas? Tá tudo melhor que ontem? Tem chovido né? Bem melhor que a seca que esturricava a pastaria. E vosmecê? Soube que compôs uma musiquinha. Fez sucesso a sua canção? Ela tá tocando no rádio”?

Lozinho, fazendo-se de desentendido. Abrindo os olhinhos cegos de sono. Me respondeu num abrir de boca e mostrar a língua.

“Que nada! Quando eu morrer nem vão dar pela coisa. Vou ser enterrado numa cova rasa. Nem uma cruzinha vai indicar minha sepultura. Minha música nem vai ser tocada. Minhas composições vão ser ignoradas. Sou um ilustre desconhecido. Nem noticia no jornal vai ser publicada”.

Hão de concordar com ele. Verdade ou mentira?

 

 

 

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