Pra vocês, o que quer dizer-felicidade?

Bem estar, satisfação, alegria, sentimento que se manifesta no sorrir, no abraçar desconhecidos, alguma coisa sem sentido, estar de bem consigo mesmo, se entregar nos braços de um amor que volta, depois de pensar que nunca mais ele retorna, estreitar, num amplexo forte, carregado de saudade, aquele ente querido ao qual perdoou, sem motivo, simplesmente assim o fez; entender, no íntimo, que as pessoas lhe querem bem, ser amado por ser quem é, não pelo patrimônio conquistado, receber de pessoas desconhecidas, aquelas por quem passou na rua, um encômio, um bom dia, mesmo que não seja tanto um ótimo dia.

Essas são frases minhas. Feitas de pouco, inda agora.

Mas as outras que copio neste momento, fazem parte de um cabedal imenso de conhecimentos, retirados de um excelente confessor, o tal Google que se esconde dentro do meu computador que tanto sofre refém de minhas constantes procuras. Que por vezes não as encontro, embora as busque em demasia.

Disse Carlos Drummond de Andrade: “Ser feliz, sem motivo aparente, é a mais autêntica manifestação de felicidade”.

Ainda é dele esta frase : “Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons”.

Já Thich Nhat Hanh afirmou: “Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”.

Georges Bernanos comentou: “Saber encontrar a alegria na alegria dos outros é o segredo da felicidade”.

Já maduro, ainda não estou velho, um tanto gasto, mais experiente, depois de passar pela infância, antes por um bebê que nem de longe imaginava o que iria ser, por uma juventude comportada, estudioso, bom menino eu era, que de vez em vez fazia travessuras normais naquela linda idade, pela fase adulta que ainda na qual me considero, podem alguns pensar que já estou ficando decrépito, talvez pelas manifestações ruidosas e espevitadas que de vez em quando me acho, tentando esparramar alegria pelos grupos onde frequento, distribuindo piadas, onde por vezes prevalece a seriedade comportada, antes que a senilitude, a memória comece a me trair, os passos claudicarem de vez pra sempre, como acontecido com meu saudoso pai, já que inda sou capaz de raciocinar com clarividência, tento, retendo, continuo a tentar, transmitir saraivadas de felicidade, como quiserem, alegria, às pessoas ao derredor.

Se por acaso alguém confundir felicidade explícita com insanidade manifesta, que me perdoem. Peco-lhes perdão. Mais uma vez.

Não por ser insano sou feliz, alegre, evito, sempre que o momento pede, seja numa velório, numa ocasião de tristeza, de constrangimento, devagarzinho vou me imiscuindo entre os demais, mostrando que aquele constrangimento é passageiro, não o tomem por inteiro, tudo na vida passa, até a uva passa, que o digam os parreirais.

Hoje, dia 13 de janeiro, meados do mês, quase, dia feio, cinzento, saí de casa à hora costumeira.

Que dia fresco se mostrava no alto! Naquela hora temprana parecia que o dia ficaria infeliz. Nenhuminho sinal de sol, de luz, de claridade, nos ensejava que o dia iria mudar. Talvez a minha estulta previsão fosse jogada por terra, sem quebrá-la aos cacos.

Hoje é sexta-feira. Dia comemorado por muitos, véspera de descanso, para grande parte da população. Para outros, não.

Antes de deixar os muros altos do condomínio, como quase rotina dei de cara com o Zé Carlos, o jardineiro.

Até parece que ele mora ali. Entre aqueles muros altos, daquele logradouro de onde não desejo sair, a não ser contra a minha vontade.

Como aprecia acordar antes das galinhas o amigo Zé!  Não sei se ele sofre de insônia, ou faz, como o retireiro e o padeiro, se dá mal com o travesseiro, ou com alguma mulher, que como ele tem medo da noite escura, como acontecia comigo, em menino criança.

O Zé Jardineiro tem pela vassoura, por um carrinho de mão verde, pelo assoprador de folhas mortas, um chamego especialíssimo. Acredito, se ele pudesse, dormiria agarradinho àqueles artefatos usados para limpeza das ruas do condomínio.

Hoje, ao me despedir do amigo Zé Carlos, o tal jardineiro mourejador, e de outros amigos estacionados na portaria daquele recanto onde me sinto em casa, perguntei-lhes, à viva voz: “Pra vocês todos, o que significa felicidade”?

O Zé Jardineiro, sempre agarrado a algum instrumento usado no trabalho, seja a tesoura de jardinagem, fosse a vassoura surrada, ou o ancinho de dentes de ferro, ou outro apetrecho qualquer, me respondeu, com aquele sorriso maroto, que para ele felicidade era o trabalho.

Para o porteiro Zé Maria, outro Zé, mais um José, eletricista de escol, idem caboclo trabalhador, felicidade era quase o mesmo que sentia seu xará, o Zé Jardineiro. Trabalhar, para ele, era o sinal inequívoco de que trabalho via de sempre leva a tal felicidade. Principalmente se feito com amor.

Já para o vigia, o segurança que passa a noite inteira andando, como vagalume sem luz acesa no rabo, ou na parte de cima da cabecinha escura, estar feliz rima com um cigarrinho de palha, apagado, que sempre traz nos lábios rubros de tanta alegria incontidamente escondida, que responde também pela palavra trabalho.

Deixei-os todos falando comigo mesmo.

Eles teriam razão? Felicidade, alegria de viver, combina com estar sempre ocupado, com alguma tarefa que, não apenas lhes traz meios de sobrevivência, como dá conta de prover a despensa, ou desenhar o sorriso na face ingênua de alguns de seus filhos, quando volta da escola, de caderno novinho, com o boletim cheiinho de notas boas, dá-lhe um beijo a queima boca, e dorme na caminha nova, paga a prestação, com o salário que percebe no mesmo trabalho, que, com certeza, vai ser capaz de perpetuar a alegria e a felicidade em seus lares abençoados, enquanto a vida for capaz de lhes sorrir, amém. Assim o seja.

 

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