Da corzinha exata dos olhinhos dela

“De que cor são os meus olhos”?

Por vezes me olho no espelho e ele responde: “são castanhos meu velhinho!”

Olho de novo meio desconfiado. E percebo, na minha percepção mais acurada. Que a cor dos meus olhos de vez quando a mim me parecem da corzinha dos olhos da minha mãe. Que eram verdes como as asas das maritacas. E meio azuis com o céu que de vez em quando se mostra ensolarado. Não como esse de hoje acinzentado.

A cor de nossos olhos já é definida ao nascer. E elas variam. Pode ser castanha. De uma cor azul ou verde. A cor âmbar é das mais raras. O cinza prevalece na íris de alguns casos. A cor avelã em cinco por cento da população mundial. Pra mim o que importa não é apenas a cor. E sim a capacidade de enxergar com os olhos da alma. E conseguir ver o interior das pessoas. Como dizia meu avozinho, ao olhar dentro dos olhos de um desconhecido: “ele é uma pessoa boa. Pode confiar no meu julgamento.”

Raramente ele se equivocava. Pessoinha sábia. Que a experiência adquirida com os anos a ele ensinou que não se deve julgar as pessoas pela aparência. Nem sempre o que reluz é doirado. Muitas vezes um dia cinzento que nasce cinzento se torna clarinho no mais tardar das horas.

Aquele menino espertinho, cujo nome ainda se escreve Pedrinho. Moleque da pá virada pelo avesso.  Avesso a ir à escola. Cabulava aula com a desculpa esfarrapada de estar doentinho. Que doença que nada. Pedrinho não sentia nadica de nada. Simplesmente faltava aula para jogar futebol. E era um perna de pau dos menores. De diminuta estatura; de pezinhos estendidos não chegava a metro e mucado. Mas era de uma esperteza de fazer corar a professora. Que quando o repreendia elezinho vinha com uma desculpinha como essa: “fessora, minha mãezinha esta doente. Tive de ir à farmácia comprar remédio. E como ela não melhorou acabei faltando aula. Desculpa-me. Da próxima vez não irei faltar. Prometo”. E não é que a tia Joana acreditava no menino? Ela cria que aquela cria ruim iria se tornar gente de bem. Bem melhor pensar assim e não assado.

Um dia Pedrinho se encantou com uma coleguinha.

E como era formosa a Mariazinha. Cabelos lourinhos como espiga de milho antes de virar boneca. Pele clarinha como nuvens do céu sem indícios de que vai chover. Naqueles seus dez aninhos lhe davam bem mais. Perninhas grossas e esguias.  Olhar malicioso convidativo ao namorico. Tudo nela era bonito. Até mesmo sua fama de Maria vai com todos.

Pedrinho não sabia o que fazer para conquistar sua amada. Trazia presentes a cada dia. Como não tinha grana era módico nos gastos. Gastava sola de tênis para encontrar o melhor regalo.

Um dia viu, numa loja de presentes baratos. Um porquinho cofrinho feito de barro duro. Encantou-se com aquele mimo. Pagou a bagatela de uns míseros centavos por aquele porquinho cofrinho meio fora de moda.

No dia seguinte a linda Mariazinha entregou o presente. Com os seguintes dizeres na ranhura onde se inserem moedinhas: “minha querida. A cada vez que você me der um beijinho vou botar uma moedinha dentro desse porquinho. Você aceita ser minha namorida”?

Mariazinha não disse sim ou não. Singelamente agradeceu o presente prometendo pensar no assunto. Ficando pro futuro a definição.

Mas em verdade elazinha tinha outros propósitos. Deveras aquela megera já estava ficando com outro metido a bonitão. Um rapagão, capitão do time de futebol da escola, com fama de garanhão das quebradas.

Pedrinho não se abateu com a recusa de Mariazinha. Que se mostrou arredia a sua corte. Já que havia preferido outro. Cuja conta bancária era além de mais graúda mais polpuda (da no mesmo, entendam como quiserem).

Um dia Pedrinho e eu nos encontramos. Novembro em seu começo anunciando quase o ano findo.

“E ai moleque? Deu certo com a garotinha? Elazinha foi na sua lábia? Estão de namorico? A propósito: qual a cor dos olhos da Mariazinha”?

Pedrinho, meio ou inteiro desgostoso com a fulana de tal. Que nem era a tal segundo ele. Acabou por me responder meio injuriado: “ah! Nem sei direito. O olho esquerdo é meio verde. O direito nem enxerga direito. Me parece que os dois são da cor exata de burro fugido e vaca atolada no brejo da esperança mortinha”.

Durma com uma resposta dessa.

 

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