A ordem é economizar.
Dada à alta nos preços bem trovejou o nosso presidente: “se está caro não compre. Fica sem comer até que os preços abaixem”.
Não sei se vai ser possível jejuar por muito tempo. Por certo o regime vai fazer efeito. Seu corpo, antes obeso, decerto vai caber no caixão. E não vai ser preciso um monte de amigos forçudos pra levar seus restos mortais aquela cova não tão profunda. E ao invés de sete palmos de terra serão preciso apenas alguns centímetros. Seguramente o seu regime vai surtir efeito. Embora em outra vida não vai ser preciso mostrar sua boa forma. Já que todas almas serão ser iguais perante as leis de Deus Pai.
Conheço uma pessoinha que se enquadra perfeitamente nessa recomendação de nosso estulto presidente.
Seu nome é Chico Sovina. Bem apropriado seu sobrenome.
Ele faz economia nas mínimas coisinhas. Não usa papel higiênico. Uma folha de jornal serve perfeitamente para suas necessidades. Ele dobra na metade da metade. Usa e não abusa de ir à privada. Ou melhor, pra não gastar água nem luz um velho pinico mora debaixo de sua cama. E, na manhã seguinte despeja o conteúdo fétido do urinol na horta de couve.
“Um adubo perfeito”. Vangloria-se o velho Chico. Se tem cheiro não sei. Mas que as couves são viçosas já as provei.
Chico Sovina nunca o vi abrir a mão. Cumprimenta os outros de mão fechada. Aliás, nem usa as mãos para não gastar a palma. Simplesmentemente, com um piscar d´olhos, olha de esguelha pro outro lado. Só pra não gastar palavras em prosas desnecessárias.
Chico é um exemplo perfeito de sovinice ao mais que quadrado. Guarda palavras a sete chaves. Não desperdiça pregos. Usa os mesmos enferrujados mais que uma centena de vezes. Não compra quase nadica de nada. Se vai ao supermercado. Depois de pechinchar com a pobre moça do caixa. Quem nem é dona de nada. Se ela não dá um desconto devolve as mercadorias às prateleiras. E sai de carrinho vazio.
Uma vez a ele perguntei: “Chico. O que você come? Se não compra nada. Vai adoecer. Cuidado com a conta do hospital”.
Ele, economizando sorriso, para não mostrar os dentes. Falou comedidamente: “ah! Não tenho fome. Não gasto com remédio. Se tenho alguma dor espero ela passar. Se fico doente recorro ao SUS. Embora tenha de esperar”.
Se existe alguém pão duro a expressão maior a tem ali. Chico não joga fora nem a sacolinha do supermercado. Usa e abusa dela até as próximas compras que não faz.
Se compra, e acha caro, devolve. E ainda pede o troco.
Uma vez o vi tentando passar adiante uma comprinha que fez. Comprou um quilo de arroz por cinco reais. E revendeu por mais do dobro.
Roupas ele usa as que lhe dão. E ainda tenta vender as mesmas para um brechó qualquer.
Chico está na quarta mulher. Todas elas renegam a união. Safado ele tenta viver à custa delas. Mas quem diz que elas aguentam? É um casa separa que vem desde os tempos de Adão e Eva.
Na ultima vez que o vi Chico estava vendendo bala num semáforo. Com um roupinha andrajosa ele se tentava se vestir de pobreza. De vez em quando um motorista parava condoído de sua miséria. E a ele dava uns trocados. Umas moedinhas de baixo valor. Chico guardava as moedinhas num velho embornal surrado. E com elas fazia a feira. Ali fingia que passava fome. Os feirantes a ele davam frutas e verduras. As quais revendia numa esquina adiante.
Chico Sovina vivia pedindo tudinho. Para não gastar economizava até nas palavras. Quem o visse mudo pensava que ele não tinha voz. Mas falava pelos cotovelos quando precisava de dinheiro.
Engraçado: pensava que mão de vaca fosse mais fechada que a mão do Chico.
As pobres ruminantes pastam e não reclamam do preço da silagem de milho.
Já o velho Chico Sovina reclama até da fala do nosso presidente: “se tá caro não compra.”
Um dia o vi falando contra.
“Se eu não compro, pois os preços estão caros. Pra quem vou reclamar”?