Enfim, ele encontrou a paz

Por vezes me questiono: “onde se encontra a paz”?

Algumas respostas me satisfazem.

Podemos encontrar a paz na simplicidade do singelo. Longe da azáfama da cidade. No aconchego de uma rocinha simplesinha.

Da mesma maneira penso encontrar a tão almejada paz no abraço de uma mãe ao filho. No carinho demonstrado entre dois amigos. Na cordialidade costumeira que deveria acontecer em nosso convívio tão tumultuado nas grandes cidades.

Penso encontrar a paz no céu onde um dia nos encontraremos. Na morte talvez ela se encontre. Na vida tumultuada tem sido quase impossível.

Encontro a tão sonhada paz aqui mesmo. Ao acordar em plena madrugada. Defronte a esse computador onde deixo minha inspiração borbulhar como água de um riacho depois de uma chuvarada intensa.

Acho a paz quando me isolo do mundo. Que seja descansando numa casa defronte a uma represa de águas cristalinas. Ou na minha rocinha pra onde irei nesse sábado que se avizinha.

Por vezes não a encontro. Perco-me na minha inquietude. Dada a minha falta de parança. A intranquilidade que me consome.

Já meu amigo. Sujeitinho de aparência sossegada. Que sempre viveu às turras com a falta de tempo. De nome simplesinho como elezinho sozinho. Seu pré nome de batismo é Aristóteles. O resto não merece menção por ser longo demais. Na roça onde ele mora é chamado de apenas Ari.  Bem mais fácil de escrevinhar.

Ari nunca se amasiou. Ou teve relações duradouras com uma mulher.

Pra ele ele si basta. Acostumado à solidão vive solitário numa rocinha distante de quase tudo. Perdida num lago seco no meio do nada.

Ari ali vive em paz. Não tem amigos nem aparentados que os conheça. Vai à cidade em extrema precisão. Quando precisa comprar mantimentos manda trazer. Tem como pagar. Pois guarda dinheiro enfiado no colchão.

Ari, conhecedor da paz em profusão. Não aprecia confusão. Um dia se aproximou de uma mulher. Não que sentisse falta. Mas gostaria de saber como seria viver na companhia de uma fêmea da mesma espécie. Já que o contato de vacas ele bem conhecia. De suínos ele bem sabia como tratar. Mas de mulheres era neófito no assunto. Mal teve uma namoradinha em jovenzinho. Mas delazinha guarda não boas recordações.

Naquele final de semana uma mulher lhe pediu abrigo. Ela vinha de longe, dizia.

Até que não era tão feia a donzela. Magricela, nela que faltava carnes sobrava gordura no traseiro. Suas tetas eram mais que perfeitas. Em comparação com o mojo de sua melhor vaca os peitos da Manuela dariam perfeitamente vinte litros de leite frio na primeira ordenha. Na tirada da tarde iriam encher dois baldes frios.

Um tanto condoído do desabrigo da Manuela e ela deu guarida. Deixou-a morar na sua casa até quando ela quisesse e desse provas de fidelidade.

A principio tudo eram flores naquele jardim desprovido de encantos e cores.

Manuela, de começo, era toda cuidados ao seu amasio Ari. Dormiam juntinhos. De vez em quando faziam amor.

Mas, com os verões sucedendo aos invernos. As primaveras deixando flores no seu rastro.

Manuela começou a mostrar as unhas. Bem tintas elas arranhavam como canivetes afiados. Ari acordava com as costas arroxeadas. Com sangue escorrendo  em cores vivas.

Mas ele se sujeitava a tudo isso pensando que Manuela fosse melhorar.

Mas a situação só periclitava. Manuela começou a gastar além da conta. Fazia contas no mercadinho do Seu Mané. Com quem diziam ter um causo. Na padaria da esquina comprava fiado. Devia a todo mundo e mandava receber do pobre coitado do Ari.

Ari começou a perder a paz que tanto prezava. A sua mulher não só lhe tirava a paz como toda a grana que ainda tinha.

Aos quase um ano, naquela convivência tumultuada, Ari perdeu os poucos cabelos que ainda possuía.

Não conseguia mais dormir em paz. Teve de vender as vacas. A preço de bagatela.

E Manuela não emendava. Ficava ainda pior.

Dois anos se foram. A paz de Ari foi junto.

Recomendado pela vizinhança ele tomou a si uma decisão. Deu cartão vermelho à Manuela.

Desde então a paz voltou a reinar. Melhor só que mal acompanhado. Dito sábio, quem o disse acertou mais uma vez.

 

 

 

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