“Tudo sobe! Menos isso”

Não pairam dúvidas que a carestia tem importunado a vida dos brasileiros.

Seu Manoel, amante de um cafezinho, dado ao preço alto dessa bebida, acabou por trocá-la pelo leite. Quem vai as compras deixa nas prateleiras. Os preços sobem em contraste com nossos ganhos. Se acha caro por que não devolver? Pra que comer se a barriga incha? Melhor fazer dieta. Deixar a comida de lado. Jejuar faz bem não só na semana santa. Como o bolso se regozija de tanto fazer economia.

Sobe o preço do botijão de gás. Melhor deixar o fogão em paz sem ser preciso de limpar.

Sobe o preço do arroz. Em contrapartida quem planta agradece.

Sobe o valor da consulta.  Daí os pacientes se queixam e não comparecem tendo de recorrer ao SUS.

Aumenta o preço da energia. Que tal ficar no escuro? Usa a lamparina.

Os preços dos combustíveis sobem à estratosfera. Não se torne uma fera. Anda a pé. Caminhar é um ótimo exercício. Pernas são feitas para serem usadas. Se fica assentado à cadeira a cacunda dói. E a bunda cansa.

Na vida daquele homem da roça tudo tem subido.

As sementes de milho sobem. O preço do adubo sobe na mesma proporção. E na hora de vender o preço do leite abaixa.  Que safadeza! Justamente na entressafra, quando as chuvas encharcam o solo. Quando não se pode arar a terra devido a barreira que na estrada se forma. Não se pode chegar ali por um motivo sabido e ressabiado. O pobre homem do campo reza aos céus. Pedindo que na cidade olhem pra ele. Sem ele não teria comida na mesa. E estaríamos sujeitos a uma dieta asfaltica. Indigesta refeição.

Foi nesse sábado passado que dei de encontro com Seu Juca. De volta da cidade pra sua rocinha prejuizenta.

Ele, afogueado nas dívidas, parou um cadiquinho pra prosear comigo.

“Meu amigo, como tem subido as coisas. O que ganho mal dá pro meu sustento. Vivo da renda do leite. Meus quinhentos litros ao dia são insuficientes para pagar a ração. Se faço silagem a chuva não me permite jogar no buracão. As estradas são intransitáveis. A prefeitura da comarca não tem máquinas que permitem consertar. E a gente sofre à mercê dos contratempos. Ando sem tempo pra nada. Da roça pra cidade. Um pé lá e outro cá”.

Eu não tinha pressa. Espichei a prosa falando das dificuldades da vida. Na cidade as mesmas mesmices. O trânsito não para. Os carros se amontoam um atrás do outro. O comércio anda as moscas. Lojas não vendem. Nos supermercados a carestia impera. Nunca vi tantos desempregados. Agora, que as aulas recomeçam, pais se assustam com o preço do material escolar. Tudo sobe meu amigo. Não sei o que vai ser da gente.

Foi quando me lembrei que Seu Juca estava de mulher novinha. Bem uns trinta anos menos que os seus quase oitenta.

Daria conta dela? Já que havia enviuvado recentemente?

Foi então que voltei a prosa a subida dos preços. Tudo subia de hoje em diante.

Seu Juca pensou. Repensou. Coçou a cabeça. Lembrou-se de sua mulher novinha que o esperava em casa. E matutou aqui comigo.

“Pura verdade. Tudo sobe. E, olhando pra baixo disse, laconicamente: menos isso.”

 

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