O que gostaria de lhe dizer, meu irmão

No dia de ontem. No espreguiçar da tarde. De volta da academia daquele clube pra onde sempre vou. Bem defronte ao que restou da casa de nossos pais.  Agora reduzida a escombros de saudades.

No momento exato de minha saída começou a chover. Uma chuvica mansa dessa de molhar bobo.

Como de costume ando sempre a pé. Dou asas às pernas para que elas não se acomodem. Carros pra mim só em extrema necessidade. A minha caminhonete fica parada defronte ao prédio onde moro. Aos sábados dou a partida. O destino quase sempre é a minha rocinha. Pra onde me desloco bem cedinho. Na hora exata quando as vacas deixam o curral mugindo de saudade dos seus bezerrinhos.

Naquela tarde de ontem, devido à chuva que caia, abriguei-me dentro daquele prédio começo da rua.  Seu nome foi dado em honra e glória do meu saudoso avozinho Rodartino Rodarte.

Lá dentro, comodamente assentado a um banco de madeira numa pracinha acolhedora estava um colega do meu querido pai, de tempos quando ambos trabalhavam numa casa bancária que tem o nome de nosso país. Ele me reconheceu de pronto. Olhou-me nos olhos e me disse exatamente isso: “Doutor Paulo. Lembro-me muito do seu pai. A ele devo muito. Era um homem honesto e integro. Foi ele quem construiu esse prédio, não”?

A resposta não a dei na hora. Simplesmente a ele agradeci tentando segurar as lágrimas que teimavam em sair.

Ao meu irmão Fred tenho a dizer. Foi exatamente nosso pai que nos construiu. Deixou-nos como legado outros imóveis. No entanto o bem mais precioso que ele nos deixou foram seus exemplos que dignificaram sua passagem aqui na terra.

Fred Ozanam Rodarte de Abreu. Temos o mesmo sobre.   Diferencia-mo-nos pelo Ozanam e o Expedito.

Somos irmãos, farinha do mesmo saco. Somos unidos pelos laços sanguíneos. Podemos estar separados pela distância. Mas intimamente ligados por uma sólida amizade.

Podemos divergir nas idéias. Você é cinco anos mais jovem, mas como tenho dito, mais se parece meu pai.

Fred, apartamo-nos bem cedo. Nossos ideais divergiam. Você optou pela engenharia e eu pela medicina. Ambos avoamos para Belo horizonte na intenção de completarmos nossa formação profissional. Foi lá que você criou raízes e aqui, em nosso berço, me aquietei.

Empatamos num casal de filhos. Mas você venceu em número de netos.

Outro detalhe cito agora. Cinco anos nos separam. Você colhe anos em vinte e sete desse mês corrente. Já eu no dia sete do mês seguinte.

Temos nossas diferenças mas nossas parecenças contam mais. Somos irmãos de sangue. Nossos pais hoje não mais estão aqui.  Olham por nós do alto. La em cima acima desse céu azul.

Um forte elo de ligação nos une. Nossa querida irmã Rosinha ainda vive por aqui.

Você, Fred, profundo conhecedor do livro santo. Já eu pouco entendido naquilo que dizem as Sagradas Escrituras. Mas ambos nos identificamos com o certo e o errado como nos ensinou nosso pai.

Fred, domingo próximo você me convidou para estar ai, em Belo Horizonte, não para contemplar as montanhas e serras das Minas Gerais, E sim para celebrarmos juntos mais um ano de vida.   Você agora adentra aos setenta. Eu já passei dessa idade cinco anos mais.

Fred Ozanam Rodarte de Abreu. Somos filhos do mesmo casal – Rute Rodarte de Abreu e Paulo José de Abeu.

Não apenas nesse domingo vindouro, como noutros de seu existir.  Receba meu afetuoso abraço.

Fred, mesmo separados pela distância, estamos unidos pelas lembranças, dos tempos bons de quando crianças, ao lado de nossos queridos pais.

 

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