Zezinho nasceu sem eira nem jabuticabeira.
Pobrezinho, bem feinho, desprovido de quase nada.
Fora um narigão pontudo. Olhinhos esbugalhados. Perninhas arqueadas como se fossem preparadas para montar. Tudo nele era desprovido de encantos.
Dada a sua feiúra ninguém queria se aproximar delezinho. Todos fugiam dele como assombração mete medo aos acovardados.
Zezinho, cujo nomezinho em verdade era Zé de Souza e qualquer coisa. Foi epitetado de Zé Ninguém por ensejar exatamente aquela pessoa inútil, um cafajeste sem nada que prove o contrário, um traste sem serventia, alguma coisa que até o lixo rejeita, nulidade, zero a esquerda, sujeito insignificante.
O apelido grudou nele como superbonder que cola e não desata. Zé Ninguém justificava a fama como ninguém. Só ele mesmo.
Quis o destino que os anos passaram numa velocidade de cometa apressado.
Zezinho continuava um zero a esquerda. Nada o fazia mudar. Nem por sua própria vontade.
Tudo corria desse mesmo jeitinho até aquele dia de novembro.
Zezinho insistia em ser um Zé Ninguém.
Ninguém gostava dele. Nenhures o tinha em bom conceito.
Nada fazia Zezinho mudar de vida. Ninguém dava nada cor ele.
Naquela noite fatídica algo de pior aconteceu.
A única pessoa que amava, em verdade, Zé Ninguém, caiu enferma. Era sua zelosa mãezinha, que tudo fazia por ele, naquela noite partiu para o além.
Seu ente mais querido deixou de existir. Era ela, e mais ninguém, além dele mesmo, Zezinho Ninguém, as únicas pessoas que o amavam. E mais ninguém.
Zezinho de repente se viu entregue a mais ninguém.
Ninguém o respeitava. Só ela e nem ele mesmo. Ninguém o amava. Muito menos ele a si próprio.
Naquele dia enlutado no velório não se via ninguém. Zezinho Ninguém foi o único a levar o caixão ao campo santo. Ninguém acompanhou o cortejo fúnebre. No cemitério também não se via ninguém mais.
No dia seguinte ao passamento de sua mãe Zezinho Ninguém decidiu não ser mais ninguém.
Já que ninguém dava nada por ele por que não deixar ele mesmo a fama de não ser alguém de respeito? Zé Ninguém foi ao cartório decidido a mudar de nome.
Antes procurou um nome mais condizente ao seu estado de espírito. Não de porco como o consideravam.
Que tal Zé Coisa Boa? Ou Zé da Vida Novinha. Ou até mesmo Zé Agora Presta.
O tabelião, já o conhecendo de antemão, a ele sugeriu, já sabendo de suas lambanças pretéritas.
Zé Ninguém casa como nenhum outro na sua pessoa. Mudar pra quê?
Você não presta pra nada. Nem pra fazer linguiça. Não tem serventia nem pra ser ninguém.
Fica melhor não mudar de nome. Todos já o conhecem melhor que ninguém.
Zé Ninguém aceitou o sábio conselho. Ninguém se opôs a sua decisão.