A Deus Vlad

Muitos partem prematuramente. Outros retardam o máximo que podem a sua partida.

Cada um traz, de berço, a sua hora e lugar de deixar essa vida que pra muitos é um presente.

Mas pra outros o presente nada mais é que um legado de dores e sofrimentos.

Tudo depende daquilo que nos é reservado. Creio que todos temos nosso destino traçado. Cada um com sua cruz. Mais ou menos pesada que aquela carregada por Jesus.

Não temos opção de escolher de que modo iremos viver. Da mesma maneira não se pode eleger, como nas urnas, quando e onde partiremos rumo à outra vida. Se é que ela existe de verdade. Não creio que a gente termina sob sete palmos de terra. Apenas nosso corpo ali putrefaz. Mas nosso cerne continua a voar para além do infinito. Como também deposito minha fé de que esse lugar nos está reservado na azulice do céu. Ao lado dos anjos e de nossos entes queridos. E que um dia, mais cedo ou no mais tardar, uniremos nossas almas aquelas que avoam sem asas. Já que não somos pássaros nem aprendemos a voar.

Já tenho elegido a data e hora da minha despedida. Podem dizer que seria muita pretensão minha. No entanto, olhando para o calendário que tenho sobre o tampo da minha mesa. A data pra mim eleita vai cair num trinta e fevereiro de um ano ainda não oficializado. Quem sabe numa noite estrelada. Em pleno sono não mais acorde. Desfrutando de plena saúde. Aí sim. Voarei aos céus pegando carona nas asas negras dos urubus. Se possível da espécie rei.

Por falar em rei. Cuja majestade no dia de ontem nos deixou. Presto minhas sinceras homenagens com esse texto de agora cedo.

Del Rey. Mais conhecido pelos amigos da academia do LTC por essa alcunha. Empréstimo dado graciosamente por um dos seus incontáveis amigos, o Guerra que nem sabe guerrear.

Nome com que foi batizado de Vladimir- abrevia-se Vlad, como ele mesmo abreviou sua vida. Era um sujeito admirado por todos que tiveram o prazer de nele fincar os olhos.

Há tempos convivemos cada um na sua esteira. Ele mais veloz. Eu com meus passos tartaruguentos.

Professor titulado em educação física tinha como admirador confesso a figura magérrima de seu pai. Que ainda professa sua atividade laboral em nossa universidade eclética cuja fama atravessa fronteiras de nossa Lavras que já foi do funil.

Em honra e glória do meu amigo ontem desaparecido de nosso convívio. Mas por certo ele vai continuar a malhar no céu. Batizei meu cão pastor com seu nome. Só que o outro Del Rey de quatro patas também agora ladra no céu.

Ainda me lembro de quando Vlad ajudava a filhota linda na academia. Era um personal exclusivo sem cobrar honorários.

Um dia ele aqui compareceu. Não para se consultar, pois o que tinha de melhor era a saúde que transpirava por todos os poros. Queria que eu prescrevesse um fármaco para ajudá-lo a pegar no sono. Fi-lo a contragosto. Temendo seus efeitos colaterais.

Del Rey, Vladimir, Vlad, como preferem, estava faltoso da nossa academia.

Seu amado pai sempre comparecia. Usando máscara branca da mesma cor de sua alma pura.

Sempre a ele perguntava pela saúde do filho amado. E ele me respondia que nada bem.

Como eu próprio vou sentir-lhe a ausência tenho certeza que todos unidos sentiremos a falta do amigo caríssimo Del Rey.

Ontem soube da infausta notícia.

Deixo aqui meu pranto sob a forma de palavras sentidas.

A Deus Vlad, Vladimir, Del Rey. Vai com Deus.

 

 

 

Deixe uma resposta