Ontem, finados, fui fazer uma visita ao campo santo.
Não me agrada a palavra cemitério. Onde se enterram os mortos. Naqueles túmulos sombrios.
Prefiro campo santificado. No meu entender palavra que soa melhor aos meus ouvidos.
Como sempre, não somente no dia de finados, percorro aquelas alamedas onde repousam entes queridos. Ilustres desconhecidos. Amigos, aparentados, ex vizinhos, colegas que nos deixaram prematuramente ou no tempo certo.
Em primeiro lugar deixo flores sobre o tampo de mármore cinzento onde meus pais descansam. Digo descansam, mas não sei se esse é o lugar exato. Acredito em vida depois dessa.
Almas existem. Embora não as tenha visto me pergunto a razão de viver. Alguns nos deixam tão prematuramente. E outros vivem anos e anos atingindo mais que um centenário. Conquanto outros partem a outra vida ainda bebês.
Grande parte dos seres viventes passam em branco pela vida. Sofrem a mercê de cruéis enfermidades. Já outros são felizes a vida inteira. Ao lado da família a nossa razão maior de conviver.
Nessa visita ao campo santo. No dia de ontem. Ao percorrer as alamedas. Olhando fotografias no tampo dos túmulos. Atinei por mim a finitude da existência.
Muitas dessas fotos eram de pessoas andadas em anos. Outras ainda crianças aprendendo a viver.
Por vezes me indago. Conquanto uns vivem tão pouco e encerram a sua trajetória por esse planeta tão prematuramente. E outros estendem seu viver indo além da idade de Matusalém.
Se existe vida após a morte como seria ela? E em que lugar iremos viver?
Debaixo daquelas lápides frias apenas ossadas são encontradas. As carnes já serviram de repasto aos germes da terra.
Pensando na finitude da vida repenso na razão de estarmos aqui.
Teríamos uma missão a cumprir? Ou simplesmente vivemos para conviver?
Acredito no destino traçado. Cada um tem sua hora e sua sina.
A finitude da vida nos ensina. Pra que discordarmos tanto se cada um tem a sua razão?
Pra que nos preocuparmos tanto com o dia seguinte se amanhã vai ser outro dia?
Pra que pensar tanto se pensamentos avoam. Mas a gente não consegue voar.
Pensando mais uma vez na finitude da vida. Em visita ao campo santo.
Vendo tantos túmulos enfeitados de flores se elas duram tão pouco sobre esse sol escaldante. Pra quê e por que vivermos ensimesmados de conflitos. De preocupações desnecessárias se tudo isso vai terminar mais cedo ou no mais tardar de algum dia.
Lucubrando sobre a finitude de nossa existência tantos pra quês me apoquentam. Se um dia nada mais restará de nós a não ser um amontoado de ossos, pele, fâneros, desprovidos de vísceras serão ensacados em sacos pretos. Para dar lugar a outros corpos sem vida.
Ontem fiz uma visita ao campo santo. Não foi a primeira nem a derradeira vez.
Ali repousam ossadas de entes queridos. Como também de ilustres desconhecidos.
Todos eles passaram pela vida. Alguns por mais tempo. Outros menos.
Pensando na finitude da minha. No quanto tempo ainda estarei por aqui. Não conto anos. Muito menos desenganos.
Simplesmente vivo.