Já não se faz mais homens como antigamente

Isso de colorir os meses é coisa da modernidade.

Em idos anos não se costumava dizer que novembro, mês que tem começo, tem a cor azul.

Muito menos colorir outubro de rosa. E qual cor melhor se aplica a setembro? Indo mais longe, o que dizer de dezembro? Por ser o mês do meu aniversário, que essa data se repita indefinidamente até quando Deus quiser… Muita pretensão minha. Se eu pudesse escolher a cor daria a ele a cor negra noite.  Bem escura. Com a mesma cor dos urubus. Já que admiro essa ave avoante. E dei a um dos meus livros o nome de o Vôo do Urubu.

E janeiro? Por ser o começo de um novo ano que tal colorir esse mês novinho com a mesma cor de uma criança. Da mesma cor de sua fralda. Branquinha como flocos de algodão descolorido de maldade. Já que quando a gente peca tudo vira uma imundície. E vermelho melhor enseja a cor dos pecadores. Já que o inferno, na minha concepção, deve ter a cor de sangue rutilante. Não o sangue de inocentes derramado em guerras. Estes conflitos que infelizmente acontecem. Por razões pra mim desarrazoadas de sentimento.

Vou dar um ponto final em dar cores aos meses. Senão meu texto iria se alongar além do que pretendo.

Vamos voltar a novembro. Mês que tem começo.

Nunca seria demais lembrá-los de que existe. Não é de agora. Uma glandulazinha que se assemelha a uma castanha do Pará. Do mesmo tamainho e forma de quando essa guloseima, que deve ser cozida em fogo brando. Em muito usada nas festas natalinas. Que quando cresce entope o canal da urina. E causa transtornos na idade dita provecta. Dai a necessidade premente de se deixar examinar. A partir dos quarenta e cinco. Quando não se tem sintomas ao urinar. De começo pelo toque. A seguir por um exame de sangue de nome PSA.

Como se torna importante diferenciar entre uma patologia de natureza benigna ou não. Se se tratar de um câncer ele pode ser curado se diagnosticado precocemente. Se não pouco se pode fazer a não ser orar.

Antes, nos idos anos quando aqui cheguei, no começo de minha lida na medicina, precisamente na Urologia, especialidade que abracei.

Pessoas relutavam em se deixar examinar. O toque retal era considerado nome feio. Exame evitado. E quando feito era a contragosto de um desgosto.

Sempre o examinado era acompanhado, puxado por uma coleira pela digníssima esposa ou companheira. E fazia cara feia ao sair da sala. Dizendo com um sorriso de lagartixa que não doeu nada nem tirou pedaço.

Ainda me lembro de um paciente em questão. Que não fazia questão de pagar a consulta à prestação. Embora o preço pago não fosse tão salgado.

Seu nome, não me recordo do sobre. Era Seu Tunico. Nascido e crescido numa localidade conhecida por Trumbuco. Aqui pertin, na cidade de Nepré.

A sua consulta não estava agendada.

Ele aqui apeou sem se anunciar. Era bem cedo. Por volta da volta das seis e cadinho.

Seu Tunico aqui chegou por indicação de um compadre. E me disse que estava tudo da melhor forma.

Aparentava maior idade que em verdade tinha contabilizado na sua certidão de nascimento.

Ele dizia ter quase oitenta.  Faria aniversário, como eu, no mês de dezembro.

Para quebrar o gelo, atenuar o mal estar inicial, ao cumprimentá-lo perguntei a ele onde morava. “No Trumbuco. Pertin do rio que secou na entressafra”.

A seguir comecei a palrar sobre o motivo da consulta. O que o trouxe até a minha pessoa.

E ele respondeu malcriado: “um busão”.

Para não perder um amigo elogiei a sua forma física. “O senhor está bem. Nem parece a idade que tem”.

Mais uma resposta malcriada ouvi sem precisar: “ah! Para quiço, chega de puxa-saquismo”.

A consulta não durou mais que as chuvas de verão. Sem alagadiço ou enchente que nos atormenta.

Ele deixou examinar a zona em questão sem fazer careta ou me xingar de dedo duro.

Ainda me lembro da expressão que ele usou ao se despedir na porta do meu consultório: “viu! Aqui vim e aqui vou voltar. Muitos relutam em se deixar examinar. Não me causou nenhum constrangimento. Faz parte. Melhor descobrir cedo antes que a doença evolua demais. Ai já é tarde para ser feliz”.

No dia de hoje, começo de novembro, ao me lembrar do Seu Tunico do Trumbuco. Ao ver a indecisão dos machos que deveriam comparecer ao consultório dos urologistas. Na idade certa. E relutam em fazer o toque.

Penso cá comigo- não se faz mais homens como nos velhos tempos. Ai que saudade daqueles anos  que não voltam mais.

 

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