“Você ainda está na ativa?”

Ontem me fizeram essa pergunta. Estava à espera da hora do almoço.

Um velho amigo me fez essa interrogação. Creio que ele tem mais alguns anos que os meus. Beira os oitenta. Acredito.

De vez em quando nos encontramos. Saudade dos velhos anos.

Percebi que suas mãos tremiam. Não de emoção pelo nosso encontro. E sim devido a uma enfermidade que faz tremular as mãos como uma bandeira tremula ao sabor da ventania estiada a meio pau.

Nesse momento, quando me foi feita essa pergunta, pensei no sentido da palavra atividade. Não precisei recorrer ao dicionário para passar a vocês seus dispares significados.

Entre eles merece citação: conjunto de coisas que alguém faz. Tarefa, trabalho, ocupação de alguém. Emprego que pode mudar no decorrer da vida. No meu caso toda essa atividade laboral tem íntima ligação com a área da saúde. Já que sempre atuei nessa área que até hoje me seduz. Ainda tanto. Se me perguntarem quanto respondo- um prato cheio pelas bordas,

Espero que minha atividade se mantenha pelos anos que ainda me restam. Se forem por muitos mais só tenho a agradecer ao paizinho do céu. Já que o outro hoje lhe faz companhia na azulice do céu. Lá em cima. Bem no alto onde minha vista alcança.

Já que meu saudoso pai ali descansa não tenho do que me queixar daqueles anos que ficaram pra trás. Eles não me trazem más lembranças. Dos tempos em que fui criança. Brincando naquela rua que daqui se avista à mão esquerda.

Ai que saudade das casas de muros baixos e roseiras nos jardins. Onde famílias se reuniam na casa dos avós. Dos primos que já se foram. Dos tios que não moram mais aqui. E dos velhos avós que só deixaram lembranças boas dos tempos que lá se foram. Dos anos que não voltam mais.

Quando me fizeram aquela pergunta não tive dúvidas de respondê-la.

“Estou em plena atividade. Aposentadoria por completo nunca, jamais. Meu saudoso pai já dizia- o ócio é o pontapé inicial do fim”.

Concordo que nos dias de agora tenho reduzido minha atividade laboral. Faço apenas e tão somente o que me apraz.

A medicina ainda me seduz. Não com a volúpia dos velhos tempos quando aqui apeei vindo das terras de Espanha. Trazendo na maleta de médico sonhos que ainda são sonhados.

Mas estes sonhos agora são divididos com a arte de escrever.

Antes, quando aqui cheguei, mal tinha tempo de olhar para um computador. Eles ainda nem eram nascidos. Os celulares, ilustres desconhecidos. Agora não fico sem essas duas pessoinhas que me fazem companhia a cada manhã.  Sem eles posso dizer que não vivo. E se disser que não sobrevivo minto.

Nos dias de hoje ainda tenho pela medicina em alta estima.

Mas aprendi, nestes mais de setenta anos, a me estimar mais ainda.

Ainda sou médico praticante. Mas com a minha atividade reduzida.

Divido as lidas de esculápio com o prazer da literatura. Tenho na minha lavra vinte e um livros editados. Cinco romances e quase vinte mil crônicas listadas no meu computador. Se fosse compilá-las em livros, cada um com cerca de duzentas, não sei quantos seriam. Uma infinidade deles. Confesso que seria quase impossível passá-los adiante. Já que, infelizmente, os nascidos aqui, em sua maoria, não têm o costume saudável de ler.

No dia de ontem me perguntaram se ainda continuo na ativa. Em meio expediente, talvez, espero ter respondido a vocês.

 

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