Causa-me pena

Afronta-me a dignidade.

Como podem pessoas de mesmo credo e crenças dispares entrarem em choque. Empunharem armas. Se meterem em guerras fratricidas. Provocando mortes de inocentes. Verem bombas pipocarem destruindo vidas e aniquilando sonhos.

Deixando famílias inteiras ao desabrigo. Vivendo em condições nada humanas. A elas faltado tudo até mesmo calor humano. Tendo de viver sob escombros de prédios quase soterrados. Destroços do que foram um dia.

Foi quando me veio à lembrança um lindo pais do leste europeu. Vizinho à portentosa Rússia. Por ele invadido em circunstâncias misteriosas há anos atrás. Não sei bem o motivo. Se por ganância imperialista de um presidente sadomasoquista.  Ou um desejo inexplicável de poder.

A bela Ucrânia tem sofrido sob o poder de fogo de um povo aguerrido que não aceita ser anexado a contragosto ao império soviético.  E resiste bravamente há anos idos. Mesmo vendo seus filhos tendo de se mudar de pais. Deixando pais, mães, aparentados se despedirem de seus amores. Vertendo lágrimas dos olhos sem nada poder fazer a não ser prantearem seus mortos. Já que essa guerra, se teve começo, não se sabe quando finda. Já que as partes não se entendem. E bombas caem provocando mortes e extermínio de uma raça que cada vez mais tem de emigrar a outros países.

E como era linda a Ucrânia.

Um grande pais do leste europeu. Conhecido por suas igrejas ortodoxas, pela costa do Mar Negro e pelas lindas montanhas arborizadas. Cuja capital Kiev abriga a Catedral de Santa Sofia com sua cúpula dourada. Por onde escorre o rio Dnieper placidamente. Escondendo relíquias como o complexo de mosteiros de Kiev-Pechersk, local de peregrinação cristão.

A antes tão rica Ucrânia agora está reduzida a escombros. Contabilizando mortes e perdas. Vendo seus filhos sob uma lente de aumento vivendo no degredo.

Ontem conheci a Sacha. Talvez não seja esse seu verdadeiro nome. Seria algo semelhante.

Ela me foi apresentada ontem a hora do almoço em meu apartamento.

Uma linda garota bem jovem ainda. Ela mora num quarto gentilmente cedido pela nossa universidade; a eclética Ufla.

Comunicamo-nos em inglês. Já que no seu idioma pátrio se torna impossível,

Ela, de olhinhos azuis, pele alva como flocos de algodão, me passou uma vitalidade que bem me retrata a saudade de sua pátria amada.

Pelo seu celular pude ver como se encontra agora sua cidadezinha fincada em solo ucraniano.

Apenas um amontoado de ruínas. Concreto e ferro retorcido resultado de bombas que ali caíram oriundas do poder de fogo soviético.

Sacha, com aqueles olhinhos azuis, da cor do mar que banha o seu lindo pais, me disse que se sente bem aqui em nosso amado Brasil. Mas que deseja voltar algum dia.

Aii deixou parentes e amigos. Muitos deles nem sabe se estão vivos.

Depois do almoço, como ela tinha de retornar ao seu quartinho modesto, em algum ponto do campus da universidade. A ela presenteei com meu romance Rakel.

Não sei se Sacha vai conseguir entender meu português. Mas ela demonstrou grande interesse em aprender. Pena que não sei uma palavra de seu idioma pátrio.

Ao ver aquela garota, distante de seu rincão. Tendo de viver fora de uma guerra que ela mesma não entende a razão.

Deu-me pena. Aviltou-me a dignidade.

Não entendo o porquê de tantas pelejas mundo afora. Se bem que aqui dentro, de nossas fronteiras, nossa guerra tem outros nomes- miséria, fome, roubalheiras, drogas e corrupção.

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