Quem ainda não se viu em plena ventania. Tentando pegar com as mãos folhas de papel jogadas pelo vento. Num redemoinho tormentoso. Qual um furacão desgovernado. Não se viu impossibilitado de tal feito. Já que tudo ao derredor gira como pás de moinho. E elas escorrem vento afora. E você não tem como parar o vento como eu não consigo refrear meus pensamentos. Que me acordam a cada momento. Já que minha imaginação avoa um vôo distante. Pra longe, bem longe de onde me encontro. Da minha cama que me cospe ao raiar do dia.
Ainda menino, tentando empinar pipas. Aproveitava o assopro do vento para que meu pássaro avoante alçasse os ares. Mas ele se engastalhava num fio de luz. E eu perdia a minha pipa. Desconsolado ficava por baixo. A espera que alguma alma boca a desgarrasse pra mim. Só que ninguém aparecia.
Naqueles idos anos eu, menino ainda, escutava o assovio do vento. E me perguntava curioso: “como o vento assovia se ele não tem boca nem dentes”?
Mas essa pergunta não tinha reposta. Pois vento não ouve e apenas inventa que venta.
Hoje sei que é impossível pôr freios no vento. Como refrear minha ansiedade. Dominar minha vontade que me assalta a cada manhã de deixar minha inspiração extravasar e deitar no computador nessas teclas negras ditadas pelo meu cérebro irrequieto. Palavras formadas de letras. Frases feitas. Parágrado por parágrafo até culminar um texto.
Do lado de fora da minha janela o vento assopra. Aqui dentro minha imaginação fecunda dita o que vai escrito.
Assim como nem tento parar o vento não consigo mudar nem a mim mesmo.
Se fosse possível parar a ventania eu inventaria uma maneira de dar um fim a outro romance. Se nem ainda comecei como pôr um ponto final?
Rakel teve um desfecho inusitado. Quem o leu bem sabe como foi.
Um dia, um tio querido, me perguntou: “meu sobrinho. Você lê seus livros?”
Deu-me vontade de responder: “não somente leio como releio. Só que o tempo ruge. E logo volto a escrever”.
Hoje tentei segurar o vento. Mas ele foi mais forte. E arrastou pra longe a minha pretensão.
Agora o tenho sob freios. Ele não mais assopra. Foi domado. Mas eu não consigo domar o que me vai por dentro.
Antes, bem dantes, quando menino ainda, ao empinar pipas na ventania. Às vezes meu papagaio avoava pra longe. E se enroscava num fio de luz.
Já agora, sem pipas ou papagaios, ainda tento segurar o vento. Mas ele foge ao meus dedos trêmulos. Escapa aos meus pensamentos. Mas fica preso aqui dentro.
Sem que eu possa soltá-lo novamente. Embora meu desejo fosse refrear o vento não consigo sequer dominar meu desejo de me ver livre de tudo que me faz mal.
Ah! Quem me dera poder segurar o vento. Aprisioná-lo na concha de minha mão. E soltá-lo de novo para ver o mesmo assovio do vento de quando menino ao lado de meus pais.