Dar chiliques dá no mesmo que dizer faniquito, fricote, ou ataque histérico.
Sintomas típicos de pessoas ansiosas, desequilibradas, ou até mesmo quem sofre um desmaio ou desfalecimento. Sendo apontadas como causas o estresse ou mesmo desequilíbrio emocional. Próprios desses tempos conturbados pelos quais estamos atravessando.
Quem ainda não se deparou, pelas ruas de alguma cidade, com uma senhora descabelada, deitada no passeio, depois de uma discussão acalorada com uma pessoa, que seja o marido ou o amante, que a deixou desarvorada. E a pobre não teve quem a acudisse naquele momento aflitivo. Quem a levasse a uma unidade de saúde qualquer onde ela fosse atendida prontamente até que elazinha se refizesse do susto. Embora aquele ataque de nervos pudesse se repetir mais tarde. Pois, aquele que sofre de ansiedade, se não tratado a contento, a doença se cronifica. Se transformando em coisa pior.
Aquela senhora, com a qual me encontrei há alguns dias, acredito ter sido numa quinta- feira passada, descontrolada ao extremo, segundo me disseram, seu nome era, se não me engano, Margarida. Sobre o sobre não fui informado qual seria. Mas bem que poderia ser outro nome qualquer. Já que conto o milagre e omito o nome do santo.
Aquela pobre mulher era a cara escarrada do que tem acontecido nos dias de hoje.
Ela me disse estar à procura de emprego. Há tempos não tem como tratar dos filhos já que o marido há muito a abandonou.
Naquela tarde, quase noite, que a vida me permitiu conhecer a sua história, a pobre mulher estava se recuperando de um súbito desfalecimento. Ainda sem saber onde estava, em plena rua da amargura, a pobre senhora recorreu a minha pessoa para me fazer entender o que se passava dentro dela.
Margarida, quem sabe seria este seu verdadeiro nome, contava com apenas trinta anos.
Já tinha três filhos do primeiro marido. Do segundo contava com dois. Eram cinco em casa. Cinco boquinhas a alimentar. Fora a dela.
Margarida até que era bem bonita. Pele clara como pêssego antes de madurar. Cabelos sedosos e negros como jabuticaba bem madura. Um corpo que bem poderia emoldurar um quadro pecaminoso. Um par de pernas fortes e roliças. Próprias para serem enlaçadas no momento exato de fazer amor.
Quem a visse naquele instante que nossos olhos se cruzaram jamais imaginaria que aquela linda mulher colecionasse tantas desventuras. De fato Margarida era a cara exata do sofrimento.
Nossa prosa se estendeu por quase duas horas completas. Ela falava e eu escutava atentamente.
“Que bom que o senhor me acudiu. Esse é o terceiro desmaio que me levou ao chão no dia de hoje. Cada vez que saio à rua em busca de emprego isso acontece. Penso nos meus filhos que em casa me esperam. Devo o aluguel do meu barraco. As contas de luz e água estão atrasadas. Não sei como nem quando poderei quitá-las. Sou eu o arrimo da casa. Mãe e pai ao mesmo tempo. Como não pude estudar, me engravidei pela primeira vez aos quinze anos, deixei a escola para cuidar do meu filho. O pai dele sempre foi um pai ausente. Tive a sorte de arrumar um emprego logo depois de ver nascer meu filho. Mas fui despedida logo no primeiro mês. Não precisa dizer que passamos necessidades. Até hoje elas não me abandonam. Agora, já mais confortada pela atenção que o senhor me deu, vou em frente. Não sei até quando. Até o próximo desmaio. Até quando alguém não mais me levantar. Este faniquito que tenho tido vai se repetir. As razões saltam ao olhos. Não são chiliques quaisqueres. Eu até que tento me equilibrar. Mas não consigo”.
Deixei aquela pobre mulher que chilicava tropegamente entregue a sua desventura pensando nas outras madames que dão chiliques sem motivo nenhum.