Quem ainda não tentou. Retentou. Tocar a lua e se desligar desse planeta.
Onde tantas desilusões acontecem. Onde tanto sofrimento campeia. Onde mágoas aparecem do nada. Sem motivo aparente.
Quem ainda não sonhou viver num mundo melhor e se desencantou com a nossa cruel realidade não teve o tirocínio exato para avaliar status quo.
Quem, por acaso de um descaso, refém da imensa sensibilidade que o cavouca por dentro, não tentou fugir a ela. Pelo menos tentou escapar. Fugindo pela tangente. Se não conseguiu por certo vai tentar de novo. Pois quem sonha não desisti fácil dos seus devaneios. Imerso que está num sono profundo. E mais uma vez se recusa acordar. Já que a noite lhe é fiel companheira. Embora a tema dada a escuridão que predomina nas noites escuras.
Esse homem, não sei se fruto de minha imaginação, se existe de verdade, ou não passa de mais um personagem de ficção. Mais um nascido de minha fértil imaginação. Em muito se parece comigo mesmo.
Temos a mesma altura. Os mesmos cabelos ralos. O mesmo par de sobrolhos espessos. O mesmo olhar inquiridor. A mesma desenvoltura no caminhar. Os mesmos costumes de nos levantarmos ao despontar das madrugadas. O mesmo desencanto pela vida do jeito que está.
Podem dizer que somos almas geminares. Sonhar pra nós é vital como o ar que respiramos.
Dizem que ambos não gostaríamos de acordar. Temos o sono curto. A cama nos enxota a mesma hora costumeira.
Somos sonhadores desde que a vida nos deu de presente o sol que nos ilumina. A chuva que cai de mansinho.
Somos aparentados mesmo não sendo parentes. Comungamos o mesmo credo. Somos apaixonados pelas letras e palavras escritas. Ambos dividimos as mesmas preferências. A singeleza da simplicidade nos irmana no dia após dia.
Sonhamos sim. Juntos, unidos e afinados.
Acordamos de um sono mal dormido. Pontualmente, a mesma hora de sempre, nos pomos de pé.
Dividimos um sonho comum. Menos noticias ruins e mais poesia.
Aquele homem que se recusa acordar. Que tem pela noite em baixa estima. Pode não ser eu.
Mas que somos iguais em quase tudo. Sem tirar nem por.
Ambos temos o P como a letra inicial de nosso pré nome. E um R como letra do meio.
Se eu disser que não gostaria de acordar ele também vai dizer o mesmo.
Vivemos ambos na mesma irreal das irrealidades. Somos sonhadores num mundo imaginário que não nos pertence.
Esse homem que não deseja acordar talvez seja meu outro lado. Minha outra cara metade.
Pena que ainda não vivo entre as estrelas. Um dia enfim irei alcançá-las. Nessa minha trajetória errante por esse mundão mais e mais imundo. Do qual meu lado sonhador um dia pretende se libertar.
Esse homem que não gostaria de acordar, sou, nada mais do que eu mesmo.