Perde-se as mãos ficam os dedos

Pra que se lastimar tanto se a vida tem muitos encantos.

Ora desponta o verde outra vez predomina o amarelo.

A natureza se colore de vários matizes de cores.

O dia de ontem amanheceu cinzento. Choveu forte durante a noite.

Já em plena madrugada o sol acordou. Sem dizer bom dia às nuvens ele se levantou.

Forte, brilhante, olhou com desdém para a nuvens e a elas disse: “acordem suas preguiçosas. Não veem que é hora de se levantar? De vocês não espero outra coisa. Só sabem fazer chover. E eu, com meu calor intenso seco tudo ao derredor. E ilumino as manhãs antes de vocês acordarem com suas cinzentices costumeiras”.

Num dia acordamos imbuídos de uma tristeza imensa. “Com o pé esquerdo”. Dizia meu saudoso avô.

Noutro dia nem deveríamos acordar. O dia começa dando bons dias ao azar.

Pra mim todo dia deveria ser iluminado. Mas nem sempre acontece segundo minha vontade.

Chuvas são bençãos que deveríamos dar. Agradecer de joelhos quando São Pedro abre as torneiras do céu.

Principalmente na roça, assim que outubro chega. Já que é chegada a hora de semear e plantar.

Já se foram à distância meus dias de fazendeiro. Foram mais de trintanos tentando conciliar a vida de médico com a de tirador de leite. Mesmo sem entender a razão de o leite ser branco e a vaca preta.

Era prejuízo sobre um amontoado de dinheiro gasto nessa atividade pouco lucrativa.

“Leite só dá lucro aos olhos do dono. E vaca não dá leite de graça. Tem de tirar”. Mais um sábio dito de meu querido avô.

Mas eu persistia e não desistia. Até que um dia…

Resolvi passar o bastão a um amigo. Ele sim entendia do riscado mesmo sem saber escrever como eu.

Mas sem querer perder os laços nem o umbigo que eu não tinha escondido debaixo de um pé de jabuticaba. Agora elas estão no ponto de chupar.

Resolvi edificar uma casa beira lago. Onde eu pudesse olhar o vazio em torno de mim mesmo. Onde o murmúrio do silêncio me fizesse companhia durante as noites enluaradas recheadas de estrelas. Onde pudesse fazer caminhadas em companhia dos meus queridos cães Clo e Robson. Que não me importunam nem com seus latidos estridentes. Importunando as vacas que pastejam calmamente do lado esquerdo onde estou.

No dia de hoje, neste sábado quente, aqui cheguei impontualmente as oito e pouco.

Encontrei meu amigo Tom Zé desalentado.

Ele acabou de me dar uma noticia nada agradável. Uma das minhas éguas. A de nome Felicidade. Tinha acabado de perder a cria. Um potrinho que deveria ser da mesma cor da mãe. Pampa nas cores branca e amarronzada.

Na hora uma tristeza tamanha tomou conta do meu eu. Tive vontade de voltar nos calcanhares e dar meia volta. Voltar à cidade e esquecer as mágoas numa mesa de bar.

Mas, de cabeça fria, tempos depois, fui pescar. Assentado à beira do lago. Sem caniço e samburá. Pensando no menos pior. Já que na roça impera o estoicismo e a resignação.

Um dia, lá se vão anos, um ex retireiro, de nome Custódio, apelidado de Notícia Ruim, pois as boas ele sonegava.  Um garotinho lindo, aos dois aninhos. Não foi por descuido dele, já que estava atarefado na lida com o gado, acabou morrendo afogado num laguinho rasinho.

Passei-lhe uma descompostura em alto grau: “Custódio! Como deixou isso acontecer?”

“Foi Deus quem quis assim.   Foi feita à vontade Dele”

E ainda acrescentou. Pra minha surpresa.

“Tenho mais cinco filhos para cuidar. Pedi uma mão inteira. Mas ficaram os dedos”.

Com a perda do filhote da minha égua fiquei, como o Tom Zé, desarvorado. Mas me ergui de novo. Pior seria perder a mão inteira.

 

 

 

 

 

 

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