Já derramei lágrimas que encheram riachos. E quase o fizeram transbordar.
Já chorei de saudades por motivos que me fizeram chorar.
Mas chorar sobre leite derramado aprendi que não se deve lastimar.
Prantear sobre algo de ruim que aconteceu no meu entender nada vai fazer mudar o sucedido.
Já aconteceu. E nosso pranto derramado não deve mudar o curso das águas de um rio que sempre irão correr rumo ao mar.
Já chorei copiosamente. Sofri tentando extravasar meus sentimentos. Mas as lágrimas secaram e nem deixaram rastros. Por dentro estava destroçado. Mas por fora, embora tivesse chorado, meus olhos nem davam indícios do choro que emergiram aqui de dentro.
Quando meus pais se despediram da vida mal pude conter as lágrimas. Ainda me lembro daquela noite fatídica. Naquele velório que se estendeu até a manhã seguinte apenas eu e um cãozinho estivemos presentes naquela sala fria. Não sei se elezinho chorou. Mas ele abanava o rabinho e olhava pra mim como se quisesse dizer: “ estou com você”.
Chorei quando pela primeira vez uma linda mocinha não caiu nas minhas graças. Ela preferiu outro amor. Que não eu.
Voltei a chorar outra vez quando tive de me despedir dos meu pais quando me mudei para a capital do meu estado a fim de continuar meus estudos.
Repeti meu choro quando minha pequena jornalista tomava o busão na rodoviária com destino ao Rio de Janeiro. Eu chamava aquele ônibus de ladrão de meninas sonhadoras. E ele nem retrocedia. E nem se importava com minhas lágrimas que desciam em cascata pela minha face tristonha.
Aprendi, com o tempo, a conter as lágrimas. Mas por dentro não conseguia evitar que meu coração não chorasse.
Voltei a chorar quando meu primeiro paciente veio a falecer depois de uma operação pra mim bem sucedida. E as enfermeiras prestimosas diziam: “ não se amofine doutor. Morrer faz parte de nosso viver. Console-se. Outros insucessos virão.”
Não sou de chorar por motivos banais. Mas se choro o motivo deve ser algo que me entristece de verdade.
Voltei a chorar por dentro naquele dia.
Não sabia o que iria acontecer. Não podia prever o infausto acontecido.
Tenho, na minha roça. Nas vizinhanças da minha casa beira lago. Dois cães amigos- Clo e Robson o pretinho.
Junte-se a eles três cavalos. Duas éguas prenhas e um cavalo pampa eunuco.
Uma das éguas estava prestes a me dar um neto. Sonhava em ter um potrinho igualzinho a mãe correndo livre pela pastaria.
Mal sabia eu que o perigo rondava aquela linda égua pampa de nome Felicidade.
Desconhecia o mal que ela e seu futuro rebento estavam correndo.
No sábado passado, ao chegar a minha morada, vi meu amigo, o caseiro Tom Zé, triste e desalentado a procura do recém-nascido.
Felicidade havia parido durante a noite. Já desbarrigada, com sinais de sangue ao derredor de seu traseiro, ela relinchava a procura de seu potrilho. E nada de o encontrarmos.
Foi ontem que soube do desfecho daquela perda que tanto me fez sofrer.
O lindo cavalinho da mesma cor de sua mãe boiava na superfície do lago.
Ele se afogou assim que despontou para a vida. Não tive a chance de dar-lhe sequer um nome.
Naquela hora ingrata não chorei por fora. Mas um apertume se deu por dentro.
Foi quando tentaram me culpar pelo acontecido. Logo a mim que jamais gostaria que tudo aquilo não passasse de uma noticia falaciosa.
Não sou de chorar pelo leite derramado. O que fazer frente ao sucedido?
Agora só me resta não incorrer no mesmo erro. Vou mudar os cavalos de pasto.
Chorar pra quê? Espero, num futuro imprevisto, ver mais cavalinhos correndo à beira da represa. Tendo suas mães felizes a espreitá-los como minha mãezinha fazia comigo menino naqueles idos anos da minha infância perdida cujos anos não voltam mais.