“Vô! Pra que vivem os besouros”?

Pensando na finitude da vida no dia de hoje acordei.

Passei a noite na casa dos meus dois netinhos Theo e Dom.

Como sempre meu sono foi curto. Como a vida se encurta para muitas pessoas.

Antes das seis já estava de pé.

Encaminhei-me ao quartinho do Theo. Ele estava dormindo como um anjinho que de fato  é.

Já o Dom nem me atrevi a entrar em seu soninho. Ele por certo dormia. De olhinhos fechados sonhando nem sei com que.

Agora, mais tarde que de costume, meu relógio mostra quase sete, acabei de entrar no meu consultório.

Ao alimentar meus peixinhos aquarianos deparei-me com uma cena de puro infanticídio.

Um deles, não sei se o pai de um dos alevinos, acabou de abocanhá-lo num átimo de segundos. Nada pude fazer para impedir a consumação do ato. Simplesmente pensei mais uma vez na finitude da vida.

Uns vivem por muito tempo. Diz a sagrada escritura que Matusalém ultrapassou os cem.

Eu pretendo, dentro das minhas pretensões mais longevas, ir além da idade que me convém.

Se a saúde continuar a me presentear com  tudo aquilo que agora sinto, não sinto quase nada a não ser a vontade de viver, quem saberia me dizer quantos anos mais me restam de vida. A resposta deixo como incógnita. Uma interrogação mal resolvida.

Sei que as borboletas vivem pouco. De flor em flor elas esvoaçam pela vida sem temer a morte.

Sei ainda que os besouros vivem cerca de seis meses. Se tanto. Eles têm sua função enquanto vivos. E participam do processo de eliminação de fezes da carcaça dos animais e ainda como recicladores de nutrientes. Sendo benéficos para a agricultura e pecuária.

Na noite de ontem, assistindo à televisão, Domzinho corria atrás de besouros tentando aprisioná-los entre suas mãozinhas em concha. Era um montão deles invadindo a sala. Tive de fechar a janela  para impedir uma verdadeira invasão alada.

Sei ainda que besouros são os alimentos preferidos de sapos, tartarugas, lagartos e camaleões.

Aqueles insetos pretos, de carapaças duras como as cabeças de certas pessoas, avoam e logo caem ao chão. Trata-se de um voo rápido como o vento que fustiga e levanta a saia de algumas mulheres que ainda usam esse tipo de vestimenta.

E meu netinho Dom corria atrás deles. Fiquei preocupado com as consequências daquele ato meio louco.

Já na hora de ele dormir, serelepe como sempre, Donzinho passou por mim como uma ventania e me disse: “vô. Eu te amo”.

Foi difícil encaminhá-lo ao leito.

Já na sua caminha Dom mais uma vez me surpreendeu com mais uma pergunta. Das tantas que ele me faz.

“Vô? Pra que vivem os besouros”?

Na hora não tive resposta. Deixei-o dormir com a dúvida.

Quem sabe, no mais tardar outro dia, quando elezinho aprender a ler, Donzinho acabe por consultar o Google e aprenda o sentido da vida.

Pra muitos ela dura quase nada. Pra outros uma infinitude.

Cada um de nós tem seu tempo de passar por aqui. O que importa é ser feliz enquanto a vida durar. Pra mim ela acaba de começar.

 

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