Isso de envelhecer só depende da gente.
Sentir-se velho é um estado de espirito. A idade não conta desde que estivermos em desacordo com a passagem do tempo.
Aos cinco anos pensava quando tivesse dez. Aos dez sonhava em ter mais de quinze. Já aos quinze me preocupava em chegar aos vinte. E assim colhia anos. Um seguido do outro. Até a idade em que estou. Aos setenta e três penso ainda ser criança. Ontem fui à casa dos meus netinhos Theo e Dom. Eles me olharam preocupados e em coro disseram: “você nem parece ter tantos anos. Brinca com a gente. Ai a idade não lhe pesa tanto às costas. E você pode voltar a ser menino”.
De fato. A idade que a gente tem depende de nosso ponto de vista. Se a vista claudica usa óculos. Se as pernas tropeçam usa bengala. Se a cabeça fica oca não se preocupe. Ai a doença de Alzheimer de fato chegou. Mas quem é ela para te dizer que a velhice é mal sem cura. Entre ficar velho e me tornar idoso prefiro o segundo. Velho é aquele sapato furado na sola. Um traste inútil que já perdeu a serventia.
Tenho a idade que quero embora digam o contrário. Correndo na esteira me sinto como se fosse um jovenzinho. O fôlego nunca me faltou. Nem ao menos empapo a camisa de suor.
Já hoje, depois de ter dobrado a serra, ainda penso em descer pelo outro lado. Não me canso de escrever. A inspiração não me falta. Outros livros com certeza serão incluídos em minha lavra.
A idade que hoje conto em absoluto não me apoquenta. Se viver alguns anos mais não darei conta de lhes dizer. Tanto pode ser uns vinte. Aí o centenário irei completar. Se sobreviver aos mais de cem oxalá seja em saúde quase perfeita. Mas se, por um acaso de um descaso, se a saúde vier a me faltar, que eu sucumba àquela idade. E deixarei pra trás os sonhos da mocidade. E a ela direi adeus.
Nos dias de agora, ainda longe de ir embora, na minha despedida dessa terra, em direção a algum lugar desconhecido, que eu avoe com asas de verdade. Não como as de Ícaro feitas de cera. Que se desmancharam ao calor do sol.
Penso ter a idade que desejo. Mesmo que seja um lampejo de insanidade. Pois digo e penso ser a linha divisória entre a louquice e a sanidade mais fina que o buraco da agulha por onde deveria passar a linha.
E, nessa idade que me cavalga os costados ainda sou capaz de levar às costas todos os três netinhos os quais amo indistintamente. E se pensam que eu minto nem comento essa inverdade.
Penso de fato que não envelheci. Tenho os anos que me convém.
Antes pensava que seria melhor estar aos vinte. Mas eles vinte se passaram. Atingi os trinta pensando chegar aos quarenta. Aos quarenta somaram-se mais dez. Somando-se a esses dez vi os sessenta avoarem pra mais treze. E agora Paulo. Que a vida passeou. Que a idade chegou. Ainda pensa que os anos não passam?
Olhe-se no espelho. E pergunte a ele: “ espelho espelho seu. Pra onde foram seus vinte anos? E os trinta? Eles se transformaram em quarenta. Se pensas que você vai voltar atrás se engana. A vida caminha adiante. Não existem relógios cujos ponteiros andam no sentido inverso. Só se você estiver sonhando”.
Mas deveras eu sonho. Não com meus vinte anos. Sonho sim em chegar a uma idade qualquer. Que seja de agora a mais alguns anos.
Desde que nunca jamais deixe de sonhar. Com o lindo dia em que os idosos sejam respeitados. Pois ninguém fica eternamente jovem.
A idade não é nenhuma fatalidade. A velhice um dia chega. E que você a receba com flores e um belo sorriso na face. Mesmo que seja um sorriso onde faltem dentes. Trate seus avozinhos com o maior carinho que eles bem o merecem. Pois foram eles, através de seus pais, que lhe deram de presente o bem maior que poderiam receber- a vida.