Amores existem de muitas nuanças.
Aqueles desvairados. Alguns mal amados. Outros não correspondidos. Amor filial. Amor paternal. Esses dois são verdadeiros e não exigem condições.
Amor que se esvai quando as rugas passarinham a face. Que pode ser confundido a paixão. Que não dura mais que aquele momento de pura ilusão. Que não sobrevive a uma separação. Aquele amor que não sente saudade daqueles beijos que aconteceram na mocidade. O qual nem se lembra daquela garota que hoje se tornou avó. Da qual pensava estar enamorado. Mas, com o tempo passando, com a idade chegando, ele se foi para nunca mais ser recordado. Já que o agora, tempos idos, você, envelhecido, nem se lembra mais do primeiro amor. Já que ele, de flor desabrochada, murchou.
Quem não acredita no amor incondicional é por que não conhece os cães.
Eles sim são capazes de oferecer carinho e devoção mesmo aqueles que deles faz pouco caso.
Cães são únicos na arte de amar sem exigir um celular novo em troca de uma noite de amor. São capazes de abanar o rabinho sem mostrar os dentes rosnando de mansinho.
Cães são exemplos vivo deste amor verdadeiro incondicionalmente oferecido mesmo aos donos ingratos. Mesmo que sejam abandonados uma vez crescidos. Eles voltam ao antigo lar pensando que tudo aquilo foi um ato impensado daqueles que um dia o adotaram ainda filhotinhos.
Cães já os tive aos montes. E eles nunca me decepcionaram. São fiéis até o último adeus. Se pensam que cães não têm sentimentos se enganam. Podem não vê-los chorar. Mas em verdade eles choram por dentro ganindo. Se eles abanam os rabinhos é sinal de que eles se mostram contentes. Se ladram não mordem. Mas se mordem eles têm suas razões.
Exemplos de cães amigos os tenho desde criança. E olha que os anos passaram.
Ainda me lembro do sapeca Wilie. Um York Shire fujão. Que, num instante de desvario, por prezar a liberdade. Acabou viralatando de vez. Nunca mais nos vimos. Mas tenho certeza, que aquele pequenino, me amava sem impor condições.
Já outros canzarrões me deram provas incontestes que me amavam. Foram tantos que não me esqueço deles todos. Na minha casa, que daqui se avista ao longe, tive outros cães. Foram amigos grandões que morreram sem que nada pudesse fazer a não guardar deles lembranças boas.
Já na minha rocinha tive três Border Collies. Foi uma sucessão de Paulos Rosas. Todos eles me amaram incondicionalmente. Um deles, personagem do meu romance Madest, tinha de ser amarrado a porta da casa Amarelazul quando nos despedíamos. E ele chorava desconsolado lágrimas que não se viam.
A seguir veio um cão enorme da raça pastor alemão de nome Del Rey. Ele, como todos outros, por mim devotava amor incondicional. E como ele sofria ao me ver partir. Eu sofria junto. Del Rey vivia só. Bem que tentei arrumar-lhe um amor de verdade. Mas ele partiu sem conseguir uma cara metade. E se despediu de mim sem que estivesse presente naquele momento de dor.
Já agora, tenho mais dois cães na minha casa beira lago. Eles foram batizados de Clo e o pretinho de Robson. Eles vivem com mais conforto num canil remodelado com vista para o lindo lago. Quando ali chego logo cuido de libertá-los. Clo sempre caminha ao meu lado. Já o amigo Robson, mais espevitado, corre logo a frente. Sempre inquieto logo ele para e vem rosnando a ajuntar-se a nós dois. De vez em quando eles se estranham. Creio que as desavenças entre eles dois se devem a ciúme de mim.
Já o amiguinho Clo, um fila tigrado, de olhos verdes e uma boca enorme, é mais um exemplo vivo de amor incondicional. Ele ainda é bem jovenzinho. Um garoto apenas. Quando tenho de prendê-lo em seu canil ele me olha com aqueles olhinhos tristes devido a minha partida. E me diz. Tenho a certeza que gostaria de dizer: “como eu o amo meu amigo de duas pernas. Acredito que meu amor seja maior que a imensidão do universo. Por favor volte logo. Sem você essa beleza toda perde a graça. Te amo hoje e sempre te amarei”.
Se ainda tinha dúvidas sobre amor incondicional. Agora tenho a certeza. Ele existe sob a forma de cães.