Passaram-se os anos.
Foram-se janeiros. Dezembros encerraram meses. Vidas se foram.
E eu envelheci.
Pra onde foram meus cinco anos?
E os dez? Se me perguntarem quantos anos tenho não me avexo de responder.
De vez em quando faço essa pergunta a pessoas com quem me cruzo pelas ruas.
Pergunto depressa aos mesmos interlocutores a quem faço a pergunta. Com a rapidez intencional. Podem confundir anos e anus. E dizem, sem pensar na minha questão, já que sou urologista ainda praticante: “tenho cinquenta anos”. Aí repondo : “anos o senhor pode ter cinquenta. De idade. Mas anus somente tem um”.
Como a língua portuguesa se torna difícil e intrincada tanto de se entender como escrever.
Quantos deslizes são praticados em seu manuseio. E como nós, brasileiros e brasileiras escrevemos mal. Mal com l e mau com u. Ambos exibem significados díspares. Cuidado quando se escreve mal e mau.
Nesse meu lidar constante com as letras e palavras, quando meus olhos passarinhavam em palavras escritas erroneamente, tentava fechar os olhos em tantos senões cometidos.
Agora, já que me acostumei a escrever febrilmente a cada dia, não mais tento corrigir frases mal escritas. Simplesmente tento separar o joio do trigo. E me permito ler apenas coisas bonitas. Ditos dos quais retiro ensinamentos que podem servir no meu aprendizado.
Não mais questiono, dentro do meu cotidiano, quando pessoas usam mal certos vocábulos. Simplesmente passo adiante. E procuro mais a frente textos que possam me inspirar nas minhas crônicas diárias.
Antes me questionava quando dialogava com interlocutores pouco letrados. Agora singelamente ouço e me eximo a dar minha opinião. Sobretudo quando os assuntos versam sobre política, futebol e religião.
Quase deixando os setenta de lado, já que os oitenta logo vem a me dizer que estou na maior idade, me abstenho de questionar coisas e loisas que não me dizem respeito. Mas nunca deixarei de respeitar os de mais idade. Já que a experiência conta e muito. Embora os jovens pensem que são os donos do mundo.
De vez em quando, muito raramente, me questiono sobre quem está com a razão? Embora quem pensa que está com a razão seja desprovido de discernimento. Pois a razão nunca irá prevalecer sempre. Pois fatos mudam. E a verdade nem sempre caminha do lado certo. Já que a linha divisória entre o certo e o errado é mais fina que um fio de cabelo. Aquilo que é tido certo nos dias de hoje amanhã o acertado muda de lado.
Não mais me questiono sobre opiniões dadas intempestivamente. Melhor esperar que a chuva caia para ver a poeira desaparecer do outro da estrada.
Antes me questionava sobre quase tudo. Pra quê me imiscuir em discussões infrutíferas. Cada um deve ter a sua opinião. E o respeito deve prevalecer de cada lado.
Se antes me questionava sobre a roupa que deveria usar. Agora sou eu que compro meus trajes. E as opiniões contrárias a elas fecho os olhos e não dou ouvidos.
Não mais me questiono se a mula manca ou anda a passos certos. Quem sou eu para dizer que isso é certo ou errado?
Antes me questionava sobre quase tudo. Atribuo à inexperiência da minha tenra idade.
Agora, anos idos, pra que me meter em querelas de terceiros?
Todos devem ter as suas razões. As minhas guardo pra mim. Elas são minhas e de mais ninguém.
Pra que questionar se as águas correm pra baixo ou pra riba. Já que riba e cima dão no mesmo entendimento.
Pra bom entendedor meia dúzia de palavras bastam. E eu já usei mais de não sei quantas neste texto de hoje cedo.