“Não era bem isso que eu queria”

Nem tudo que a gente deseja acontece.

Mas a insatisfação da mesma maneira faz parte da gente.

“Ah! Como gostaria que chovesse nesse secume danado!”

Mas se chove além da conta as reclamações partem de todos os lados.

A raça humana nunca se satisfaz com as graças recebidas. Sempre desejamos mais e mais.

De vez em quando um muito obrigado deve ser dito com as mãos estendidas ao céu.

Este mesmo céu de onde vem a chuva. Pra onde iremos um dia. Se merecermos viver em outra vida. Onde descansam nossos entes queridos. Que lá no alto oram por nós.

Lugar encantado tido como um paraíso. Sabiamente dirigido por Deus Pai de todos nós independente da crença que nos faz acreditar. E eu creio Nele de todo coração. Certo que Ele, embora em horas turvas parece que nos abandona. Mas Ele sabe melhor que nós quando deve voltar a nos consolar. Seja nos momentos de angústia ou desvario. Nos dias alegres parece que Dele não precisamos. Ao revés.

Para aquele homem da roça. De nome Pedro. Valente e guerreiro. Que sempre acreditou em Deus Pai Nosso Senhor.

Naquela entressafra, como todos seus vizinhos, sofria com a seca que fazia secar a pastaria.

Outubro se avizinhava. Era tempo de arar a terra. Adubar. Nela jogar as sementes. E esperar a época da colheita.

Mas quem diz que a chuva iria cair?

Pedro dormia ao cantar do galo. Antes das sete já se recostava ao leito. Sempre solitário era esse seu estilo de vida. Aos quase oitenta anos, completos naquele outubro, era feliz e bem o sabia.

Seu Pedro era um faz tudo. Não só ordenhava suas vacas como não deixava o cocho vazio.

Era ele quem arava a terra. Possuía uma junta de nois parrudos. Barnabé. Aristeu, Boa Praça, eram seus mosqueteiros. Criados desde bezerrinhos. Eram eles três que faziam a aração de uma gleba de terra que media mais de alguns alqueires. Era ali que Seu Pedro plantava milho.

E depois que o milho espigava e amadurecia a hora certa que a roça era colhida. E depois jogada dentro de dois buracos rasos. A espera de azedar e ser servida ao gado.

Mas, naquele ano ingrato, a chuva tardou por mais de um mês inteiro e a roça de milho não crescia a contento.

A presença da tão esperada chuva não se dava. Ao revés. Tardava mais e mais.

Seu Pedro já previa uma perda na lavoura. Que lhe saiu caro o plantio.

Outubro acordou quente. A umidade do ar beirava menos de dez por cento.

Naquela manhã de vinte e sete de setembro Seu Pedro nem dormiu a noite. Sonhava com a presença da chuva.

Abriu a janela do seu quarto e olhou pra cima. Nuvens cinzentas se amontoavam.

De repente desabou um aguaceiro. Trovões,, faíscas elétricas riscavam o céu.

As preces de Seu Pedro enfim se concretizaram. A tão sonhada chuvica iria cair.

Mas ela veio forte demasiado. Uma tempestade desabou provocando estragos por toda a parte.

Árvores tombavam ruidosamente. Seus três bois de carro acabaram mortos debaixo de uma delas. Deles três só restaram lembranças boas.

Seu Pedro, desconsolado, deixou a casa em busca de ajuda para colher a roça de milho. Mas ela estava irremediavelmente perdida. A lama tomava conta da estrada. Não havia acesso para chegar a sua rocinha.

Foi quando me encontrei com Seu Pedro. Ele estava desconsolado. De  mãos ao alto lastimava: “ meu bom Deus. Não era bem isso que desejava. Mas seja feita a sua vontade. Tenho certeza que no ano que  vem será melhor”.

É assim que penso eu. Se não for no dia de hoje que fomos atendidos em nossas preces esperem um pouco mais. O bom Deus sabe o que faz. Quem somos nós para contradizê-lo?

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