Quando os sonhos terminam pra que continuar a viver?
A vida se resume em sonhar. Em devanear. Em amar.
O primeiro amor nos foi dado pela nossa mãe. Graciosamente.
Para depois, com o tempo passando, outro amor diferente foi descoberto.
Aos dezessete anos incompletos, aquele garoto, de nome Zezinho, menino sonhador, redescobriu outro tipo de amor.
Foi num passeio pelo jardim, timidozinho, que ele se cruzou com os olhares de uma meninazinha, de nome Amanda, e por ela se enamorou.
A princípio tudo não passou de uma troca de olhares. Eram bem jovenzinhos ainda. Ele aos dezessete. Ela aos quinze.
Mas quis o destino que eles se reencontrassem.
Zezinho, já médico feito, assim que retornou a sua cidade, trazendo a mala de médico recheada de sonhos. O destino lhe presenteou com novo encontro.
Aquela mesma meninazinha, agora não mais menina, durante um plantão no hospital onde trabalhava, foi a segunda a ser atendida. Ela simplesmente se queixava de uma dor no abdome inferior. Que se comprovou, depois dos exames feitos, se tratar de uma apendicite supurada.
Em alguns dias apenas Amanda teve alta do hospital. Já restabelecida por completo,
Eles não se desgrudaram mais. Foram feitos um para o outro. A cara metade que lhe faltava desde aquele dia no rela do jardim.
Anos se foram. Longos janeiros deixaram lugar a outros fevereiros.
Aquela união se consolidou com a chegada de três netinhos. lindos meninos que completaram a felicidade do casal.
Doutor Zezinho, assim que viu a idade chegar, tomou-se de outra paizão. A arte de escrever absorveu-lhe por inteiro. A medicina ainda o seduzia. Não tanto quanto a literatura.
E ele continuava a escrever febrilmente.
Depois de editar mais de vinte livros se preparava para ultimar mais um romance.
Em sua cidade a única livraria teve suas portas fechadas. O costume de ler infelizmente não era afeito aos cidadãos de nosso amado Brasil.
Em todas as cidades, de grande porte, não ficavam de fora as de porte mediano, as casas onde se vendem livros estavam com os dias contados.
Triste realidade a nossa.
A internet acabou sepultando os livros impressos. Os E-books e afins, tomaram a vez dos velhos livros encadernados. Aqueles que basta se abrir uma página e está pronto a empreender uma viagem maravilhosa sem ser preciso estar ligado a uma tomada e se conectar a tal internet.
Doutor Zezinho, prestes a concluir mais um romance, com um amontoado de livros a serem vendidos as suas costas, ao ver mais uma livraria fechada, acabou pensando ser o fim de mais um sonho.
Mas sonhar é preciso. Como respirar e amar.
Doutor Zezinho, mesmo sabedor da triste realidade, continuou a escrever. Sempre.
Certo de que não é fácil vender livros. Que casas onde se vendem livros mais e mais fecham suas portas.
Mas certo também que ele vai deixar seu legado as futuras gerações.
Ele nunca vai deixar de sonhar. Mesmo que a realidade conspire contra tudo que sempre sonhou.
Ontem mesmo o vi. Aqui mesmo. Na sua oficina de trabalho. bem cedo. Antes mesmo de o sol despertar.