Entre fogos cruzados

Quem ainda não se sentiu entrincheirado. No meio de uma guerra. Das tantas onde não se disparam balas de fuzis. E sim petardos que não nos matam. E sim nos machucam. Nestes dias turbulentos onde palavras ditas impensadamente fazem com que a gente sofra. Indevidamente.

Quando nos jogam aos ombros frágeis culpas maiores que não temos.

Quando, pelas redes sociais são noticiadas inverdades. Agora conhecidas por Fakes. E se torna quase impossível comprovar-lhes a falsidade. Onde falsos heróis desfrutam de um valor maior que eles em verdade têm. Ícones de pés de barro. Que a menor tempestade terminam por verem esboroar seus alicerces.

Vivemos em tempos de contratempos. A mercê de uma mídia sedenta de sangue. Onde notícias ruins prevalecem em detrimento das boas. Quando assaltos, mortes, assassinatos, falcatruas, são motivos de encher páginas de jornais. Conquanto poesias, boa literatura, são esquecidas e pouco veiculadas pela mesma mídia.

Vivemos entre fogos cruzados. Não numa guerra fratricida como infelizmente acontece entre dois países limítrofes.

Mas a guerra onde mortos tombam em outras trincheiras são noticiados no dia após dia. Nas ruas das grandes cidades. Mesmo nas de porte mediano e pequenininhas. E as causas são outras. E as balas que fazem tombar indefesos cidadãos são movidas a outro tipo de munição. Drogas, brigas de torcidas,  balas perdidas que encontram alvos errados.

Vivemos entrincheirados. Com medo de tudo. Se sairmos as ruas podemos nos transformar em alvos fáceis. Nos afanam os celulares. Nessa guerra sofrem todo o tipo de pessoas. Sejam elas idosos à mercê de suas incapacidades. Sejam jovens desavisados. Mulheres ou homens não mais são distinguidos pelo sexo.

Entre fogos cruzados me sinto. Quando, em qualquer hora do dia, seja no mais tardar  das noites, nosso celular nos intima a ouvir quem está do outro lado da linha.

Felizmente sou capaz de descobrir quem me chama. Quem ainda não se sentiu entre fogos cruzados quando a ligação vem de São Paulo.

Quando ainda tento  ouvir de onde vem a ligação por vezes atendo. E, do outro lado dessa trincheira ouço aquela vozinha que parte de uma telefonista tentando me convencer a mudar de plano de celular: “ aqui é da Claro. Estou falando com Paulo”?

Fico alguns segundos na linha e desligo.

Ontem foi a vez de outra chamada: “ falo com Paulo? Aqui é da Vivo. Não deseja mudar para a gente. Tem muitas vantagens. Compareça a loja da Vivo e comprove pessoalmente”.

Não carece dizer que acabei desligando. Estava numa hora imprópria. Correndo a dez por hora numa esteira da academia.

Já hoje, nesse dia lindo de vinte e um de setembro, com esse sol que ilumina do lado de fora da minha janela, nesse exato momento, quando tento me concentrar escrevendo, mais uma ligação me faz voltar a atenção ao celular.

Foi quando mais uma vez me senti entre vários fogos cruzados.

“ Aqui quem fala é a Tim. Estou falando com Paulo? Você pode me ouvir um instante? Estou a lhe oferecer inúmeras vantagens se deseja mudar seu celular para a Tim. A OI não existe mais. Sei que seu telefone fixo emudeceu. Sei ainda que se trata de um consultório médico. Um lugar onde não pode faltar serviço de telefonia”.

Agora, quase sete da manhã. Com o calor que faz no momento. Mais uma vez me senti entre fogos cruzados. Entrincheirado entre tantas operadoras de telefonia disputando a freguesia.

Só tenho a dizer a elas todas: “ eu Vivo pensando no dia em que a noite ficar Claro. É Claro que irei viver melhor. Tim Tim por  Tim tim. Meu OI pra vocês”.

Acabei entrincheirado entre fogos cruzados. Estendendo a bandeira branca da paz.

 

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