Relações…
Como elas podem ser complicadas.
Por vezes as discussões são intermináveis.
Motivos vários são relacionados.
Ciúmes pode ser o principal.
Mas outros são capazes de pôr fim à relação. Uma que já dura anos infindos. Que pode vir desde quando o casamento aconteceu.
Ainda jovenzinhos apaixonados disseram sim um ao outro.
Naquele altar a frente de um padre prometeram solenemente- “até que a morte os separe”.
Nos primeiros anos de matrimônio tudo corria como as águas de um riacho serelepes em direção ao rio. Para depois encontrarem o mar.
No entanto, anos mais tarde, algumas turbulências começaram a azedar o sumo doce daquela relação.
Vieram os filhos. Dois garotinhos lindos a cara da mãe.
E nesse interregno o pai foi despedido da fabriqueta de fundo de quintal onde trabalhava.
Os filhos a caminho da escola. Começou a faltar recursos para mantê-los numa escola particular. E eles dois foram transferidos para uma escolinha vizinha a casa onde moravam de aluguel.
A crise se mostrava intransigente para aquele casal. O pai procurava emprego mas não encontrava.
As prestações atrasavam a cada mês. A conta da luz e da água empilhavam no tampo da mesa sempre vazia.
O pobre pai não sabia o que fazer. Todas as tentativas esbarravam na falta de estudos. Mesmo assim ele perseverava em encontrar trabalho.
A mãe, mais e mais preocupada, mal via a hora de deixar a casa. Ela cada vez mais pensava na separação.
Apesar de ainda existir algum resquício de amor pelo seu marido ela não mais pensava nele como nos velhos tempos. O amor antigo havia terminado com a falta de dinheiro. Dele nem ao menos restava nem um naco de carinho. E as brigas se ouviam pela rua inteira. E os vizinhos preocupados relutavam em apartar as rusgas que de vez em quando iam às vias de fato.
Foi quando pensei no apesar dos apesares.
Como sobreviver a um casamento conflituoso? Como a convivência entre marido e mulher ameaça esboroar quando aquele amor acaba pode emergir sem naufragar de vez?
Apesar dos apesares devemos procurar a concórdia. Não que aquele amor possa ressurgir das cinzas como a ave fênix. Mas devemos pensar nos filhos. Nos netos. Na casa feita a dois.
Apesar dos apesares a separação pode ser dolorosa e recheada de percalços. Quem deve deixar a casa? Já que ela foi feita a dois?
Viver na própria companhia pra mim não me acostumarei. Já que não sei cozinhar ou cozer.
Levantar a cada dia sem sentir o cheiro da companheira a mim não cai nada bem.
Apesar dos apesares ela sempre me acompanhou pertinho de mim. Ajudou-me quando eu mais precisava. Amparou-me nos bons e maus momentos.
Apesar de tudo sinto a falta de nossas rusguinhas. Do ficar de mal que terminava sempre a hora da novela das oito que nunca começava antes das nove.
Apesar dos pesares sinto a falta de quase tudo. Menos de quando ela não fazia aqueles tira-gostos apetitosos que eu tanto amava.
Apesar disso, de nossos arranca rabos, das discussões que não levavam a nada, sinto falta daqueles bons tempos que ainda éramos jovenzinhos. E eu a buscava na porta do colégio no meu fusquinha todo incrementado.
Apesar de tudo isso penso que não vale a pena a separação. Eu nem em sonho tento me imaginar vivendo solitário numa casa.
Apesar dos apesares não tenho dúvidas – como ela me faz falta.