As ramelas da idade

Também conhecidas por remelas são aquelas secreções brancas ou amareladas que se formam no canto dos olhos, principalmente durante a noite, que realmente incomoda e nos turva a visão.

Trata-se de um evento bastante comum. Que pode ser devido a infecção. Da mesma maneira pode fazer com que nossos olhos amanheçam grudados.

Provocando um desconforto danado. Que provoca pruridos. E a gente tem vontade de coçar o que pode incrementar ainda mais os sintomas. Soberbamente naqueles idosos. Os quais foram operados de alguma doença na visão. Como catarata ou glaucoma. E outras tão frequentes nos anciãos.

Quando mais velhos ficamos mais doenças nos afligem.

Quando jovenzinhos a gente mal nos preocupávamos com doenças. Uma gripinha ou outra nos jogava na cama. Que se curava sem maiores consequências.

Mas agora, que dobramos a serra, quase chegamos ao cume, passamos a nos preocupar mais e mais com a saúde.

Ainda bem que nosso plano, cada vez mais fora de nosso alcance, cobre nossos exames. E quando carecemos de internação mais uma vez recorremos a ele. No meu caso quase não preciso de me consultar. Exames de laboratório não me lembro de quando me deixei espetar.

Mas as remelas da idade me fazem lembrar de quando mais velhos ficamos pior será.

Ontem mesmo, assistindo ao embate entre dois tenistas. Na final do US open. O sérvio Djokovic e o russo Danil Medvedev. Mais um Grand slam vencido pelo primeiro.

Minha esposa que cochilava ao meu lado sussurrou aos meus ouvidos: “ muda de canal. Estamos perdendo o programa do Gugu”.

E eu retruquei: “o Gugu já morreu. Não seria o Silvio Santos”?

Ela se calou na hora.

Mais uma ramela que passou a incomodar os de mais idade. A falta de memória do que aconteceu ontem se foi.

Engana-se quem diz que ficar velho é padecer no paraíso.

Melhor dizer: “ ser mãe é isso”.

A velhice pode ter suas vantagens. Poucas, no meu entendimento.

Mas as ramelas mais e mais nos incomodam. Elas se tornam mais e mais frequentes em nossa vida.

Os idosos, não velhos como muitos entendem, têm seus privilégios. Desfrutam de regalias no transporte coletivo. Pagam meia entrada nas casas de shows e congêneres.

Deveriam ser tratados como pessoas cujo passado não deve ser olvidado. Mas de fato são?

Mas as nossas ramelas não apenas nos incomodam como nos fazem sofrer à mercê de nossas incapacidades. Ao atravessarmos a rua devemos ter cautela. Caso contrário sucumbiremos debaixo das rodas de um auto.

Quem diz que ser velho deve gozar de sua aposentadoria pois já trabalhou tanto. Não deve esquecer dos filhos cangurus que se aboletam as nossas costas e não saem de nossas casas. E, quando seus pais se tornam um peso morto só nos restam as remelas de sermos jogados a uma casa de idosos. Como um traste inútil sem serventia.

E mais ramelas são inseridas a essa lista.

Ser velho não é viver  num paraíso. Ao revés.

Ai, quando menos se espera, lá vem as doenças. A invalidez pode vir de mansinho.

E passamos a depender não apenas do carinho. Como também do apoio daqueles a quem demos a vida.

Pena que muita das vezes essas pessoas nos ignoram quando mais precisamos.

As ramelas da idade não só incomodam aos nossos olhos como nosso coração quando ele ainda pulsar.

E esse órgão pulsátil sensível como nossos olhos sofre à mercê de tanto desdém.

Provocando não apenas lacrimejamento como faz doer.

Não tenham dúvidas.

Ser velho não é nada apetitoso. Como um brigadeiro que nos adocica a boca.

As remelas têm o sabor amaro. Por isso não  nos privem de passar nossos últimos anos em paz. Pois bem que merecemos.

 

 

 

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