Por mais que tente me desvencilhar do passado ele sempre me acompanha.
Aqui chego por volta das seis da manhã. Rotineiramente.
Ao olhar pela janela vejo sempre o mesmo cenário.
E sem querer retorno ao passado.
Aquela mesma rua me faz voltar aos cinco anos.
Quando para lá me mudei.
Vindo de Boa Esperança onde nasci.
Uma vez apenas pra lá retornei em visita à Rua Coqueiral 155. A casa onde pela primeira vez vi o mundo com esses olhos incrédulos por tanta beleza.
Às minhas costas posso ver velhas fotografias.
Eu, ainda menino, nos ombros de meu saudoso pai. De bracinhos erguidos. Tendo ao meu lado minha querida mãe Rute.
Logo acima outra fotografia em preto e branco retrata euzinho apontando meu dedinho à frente. Como se fosse um revolver de brinquedo. Numa pracinha daquela linda cidade hoje banhada por uma represa. Num retrato ao lado minha querida tia Cida me envolve em seus braços carinhosamente como se eu fosse seu filho e não sobrinho.
Não me canso de me reportar ao passado. Fotos antigas me fazem revivê-lo.
De vez em quando tento apagar lembranças.
Mas, por mais que eu queira elas não se desgrudam de mim.
Aquela mesma rua me atrai. A saudade me toma o peito.
Ainda me lembro de quando meus pais eram vivos.
Quando ele era gerente de uma casa bancária que tem o mesmo nome de meu amado pais.
E minha querida mãe lhe fazia companhia.
Naquela mesma casa hoje reduzida a um lote vazio.
Sempre, ao cair das tardes, passo ali defronte. Tento reviver nossos momentos juntos.
Mas eles não mais estão por ali.
Por sorte minha querida irmã Rosinha mora ali pertinho. Não naquele mesma casa. E sim noutra casa vizinha.
Quase sempre lhe faço uma visita. Ontem mesmo assim sucedeu.
Quem sabe no dia de hoje, nesta linda sexta feira, vamos todos à Camargos. Na casa que meu pai tanto amava.
Ainda me lembro da última vez que o levei a sua casa beira lago.
E como me doeu vê-lo, já em cadeira de rodas, olhar, com seus olhos inexpressivos daquela varanda, aquele lindo cenário.
Por mais que tente apagar lembranças elas sempre me acompanham.
Por mais que tente apagar o passado ele não sai dos meus pensamentos.
Agora mesmo, aqui na minha oficina de trabalho, neste feriadão, nessa manhã ensolarada, volto meus olhos às velhas fotografias.
Elas me dizem para viver o presente. E que de nada adianta pensar no que passou e que devemos seguir adiante.
Mas eu não consigo. Bem sei que o futuro é uma incógnita. O presente se faz presente. Mas o passado, por mais que faça um esforço ele me toma por inteiro.
Saudades sempre me fazem reverenciá-lo. Sempre…