Amanhã celebra-se o dia da nossa independência.
Ou morte? Conforme bradou o imperador Dom Pedro.
Sete de setembro cai no dia de amanhã. “Fique em casa”! Apregoam as redes sociais.
Mas ficar em casa não era do feitio daquele homem guerreiro.
Antenor, na sua lida diária, permanecia sempre a frente das suas vacas. Amava-as mais que a ele mesmo. Pois desde pequenino ajudava ao pai nas tarefas rotineiras daquela pequena fazenda nos arrabaldes de uma cidade grande. Pra onde ia sempre que precisava comprar mantimentos. Gêneros de primeira necessidade. Já que leite ele tinha de montão. E queijo fazia sempre a fim de vender na venda pertinho da porteira de sua rocinha. Já que o preço do leite não compensava. Principalmente na entressafra. Quando a chuva escasseava e o sol lambia a pastaria esturricada. Que ao menor descuido pegava fogo quando algum incauto atirava guimba de cigarro pela janela de um carro que passava pela estrada.
Antenor, acostumado à rotina de sua fazendinha, não lhe sobrava tempo para quase nada.
Ora era tempo de arar a terra. Outra vez estava na ocasião de semear as sementes de milho.
E quando o tempo era oportuno a roça de milho logo estava pronta a ensilar. Mas quando a chuva faltava corria o risco de perder tudo.
Mesmo assim o bravo Antenor não desanimava. Era o tipo de gente que se o tirassem de lá por certo morreria à mingua na cidade.
Naquela quarta-feira, véspera do dia da independência, o dia amanheceu ventoso. E nada de chuva a despencar do alto.
Na cidade as celebrações do dia da pátria já haviam começado. A praça central toda enfeitada com nossa linda bandeira.
Estudantes uniformizados se revezavam a espera de sua vez. Bandas, fanfarras já entoavam suas músicas.
Autoridades se postavam num palanque armado estrategicamente defronte logo a frente do desfile .
Neste interim Antenor já se preparava para a primeira ordenha. E as vacas em fila indiana ruminavam ansiosas a espera de sua vez.
Na cidade a parada começou.
Já na roca do Antenor a parada era outra.
A primeira vaca a entrar na sala de ordenha foi a Braúna. Seguiu-a a Doroteia.
A Malhada veio a seguir acompanhada do touro Rubião que lhe cheirava o traseiro.
Na cidade a parada do sete de setembro terminou antes do meio dia.
Mas a parada das vacas do Antenor continua dia após dia.
Assim desfilam as paradas dos homens do campo. Pra eles os dias desfilam sempre iguais.
E eu me pergunto: por que não dão valor aqueles estoicos trabalhadores rurais?
São eles que nos fornecem o alimento. São eles que não desfrutam feriados ou dias santificados. São eles que nos dão, com seus exemplos, lições de patriotismo mesmo não comparecendo a paradas como as de amanhã.
Tenho assistido à paradas das vacas do Antenor desde quando me meti a fazendeiro.
Foi então que entendi que vaca não dá leite de graça. Tem de tirar. E essa atividade exige além de enorme sacrifício uma dose de amor a persistência.
Amanhã, sete de setembro, aqui pertinho, na praça, um desfile assinala o dia da nossa independência. Já na roça do Antenor a parada é outra.
Sem fanfarras, sem autoridades, sem festas.
Mas ele tem de sobra motivo para celebrar.
E nós, temos?