“Tristeza. Por favor vai embora. É minhalma que chora”…
Reticências.
E como domar ou derrotar a tal tristeza?
Com um chicote chamado alegria.
Ficar triste pra modis de quê? Foi essa a resposta de um tio meu.
Seu nome era Alegria de não sei o quê.
Ele, se não existiu podem estar certo que foi mais uma invencionice da minha parte.
Se mo permitem um aparte digo pra que ficar acabrunhado. Desolado, enrustido e desenxabido a um canto. Sem ao menos cantar um canto alegre no seu canto da gaiola como faz meu canarinho amarelinho de nome Vitinho que trasanteontem foi levado para uma janela envidraçada da minha cozinha. E como ele canta alegremente mesmo morando engaiolado na sua prisão feita sob medida para sua vida devida a uma chocadeira onde elezinho nasceu sem penas ainda filhotinho.
Não tenham deudas que nosso Brasil vai afundar como o Titanic fez em plena noite no Atlântico norte gelado. Depois de colidir com um iceberg vagando a esmo desprendido das calotas polares.
E não vou me mudar pra Pasargada nenhuma. Se por ventura suceder esse previsível naufrágio.
E nem ao menos vou abandonar esse nosso barco como ratos. Mesmo com água subindo ao meu pescoço vou valentemente me agarrar a uma boia salva vidas e nadar até a praia.
Mas, quem anda como eu, se por acaso me virem andar de carro por favor me multem. Já que penso serem os autos mal maior que necessito para viver em alegria constante. Embora saiba que felicidade tem a mesma duração que a florada dos ipês prestes a caírem em julho ou agosto que se avizinham. A tal felicidade é efêmera como a flor do assa peixe ou outra que a ela equivalha.
Hoje amanheceu mais um dia cinzento. Era uma cerração tamanha que meus olhos entreabertos mal enxergavam a um palmo de distância. Mas, diz um ditado popular que- quando a cerração abaixa no mais tardar o sol racha.
Eu deixei meu ap antes de o sol se levantar. Estava escuro um breu.
Mais tarde o sol entrou em cena nesse teatro por nós chamado vida.
E, antes das dez comecei meu périplo pelas ruas da cidade.
Defronte à igreja matriz deparei-me com o Ai ai numa alegria esfuziante.
“Me dá uma moedinha. E, se não tiver pode me dar uma nota qualquer. Desde que não seja de um real”.
Despejei, de dentro de minha bolsinha uma charrete de moedas de vários valores. Elas rolaram pelo passeio defronte a tal igreja. Ai ai apanhou-as todinhas com a palma suja de suas mãos.
Pela conta a quantia subia a mais de cinco reais.
E o alegre Ai ai continuou a sua pedição de moedas. A essa hora ele deve estar de bolsa cheia.
Descendo pelo passeio, sem muito asseio, do lado direito da avenida principal. Depois de ver lojas entregues apenas aos solícitos vendedores, que crise atravessamos, dei uma paradinha na Casa das Tintas do amigo Itamar.
E a ele contei o episódio do Ai ai e suas moedinhas. E como ele demonstra alegria. Não sei se genuína ou falsa como o sorriso do lagarto.
O amigo das tintas me disse isso que passo adiante : “olha. O Ai ai não é tão alegre como parece. A cada dez reais juntados ele passa na rua Quatorze de Agosto e compra não sei quantas pedras de crack. Depois passa numa tal pedreira e enche o cachimbo de mais pedras. Ele vive alegre por esse motivo. A sua alegria é resultado deste nocivo vicio”.
Hoje percebi uma certa tristeza nas ruas de nosso amado Brasil.
Lojas abertas sem consumidores. O desemprego sobe às alturas. Somente os supermercados se locupletam desse estado calamitoso.
Já o Ai ai, com sua alegria esfuziante, a razão desse seu sorriso mesmo desdentado, conforme fui informado. Se deve as pedras de crack que ele consome.
No dia de hoje notei esse nosso país triste e macambúzio. Quase não se via vivalma pelas ruas a hora em que deixei meu apartamento.
Tudo me parecia triste, cinzento.
Mas, ao descobrir a razão da felicidade aparente do Ai ai.
Fica aqui a minha receita para tirar nosso amado Brasil da infelicidade que o domina.
Uma cachimbada de pedrinhas de crack ao acordar e outra ao cair da noite.