O que é ser valente?

“Quando fui pra escola eles me perguntaram o que queria ser quando crescesse. E escrevi: “Feliz”. E eles me disseram que eu não entendi a tarefa. E eu respondi que eles nada entendiam da vida”. John Lennon

E enquanto a vida passarinha a gente cresce em metros, centímetros, ou que seja. Mas nem sempre a felicidade caminha a passos certinhos ao nosso lado. E por vezes nos desviamos dela. E acabamos buscando doutros caminhos bem distantes de nosso maior objetivo de viver. Qual seja ele, no meu entender – uma palavra mágica grafada desse jeito – felicidade. Palavra que não rima com alegria mas são pra mim irmãs siamesas. Que nasceram intimamente unidas por qualquer parte do corpo. Mas o coração… Ah, esse órgão pulsátil bate em descompasso quando uma pessoa não ama e a outra corresponde amando-o tresloucadamente. Até quando seu coraçãozinho sofredor parar de tiquetaquear.

Pra mim valentia significa não apenas destemor, coragem, intrepidez, audácia e valor.

Ou a qualidade de quem tem força, vigor, energia, ânimo, arrojo e outras sinonímias mais.

Na roça se diz valente aquela peão que leva cascavel na canela e conduz  aquela cobra peçonhenta para a própria casa e a trata com carinho e amor deixando-a dormir na própria cama. Sem medo do veneno que ela mesma pode inserir em sua circulação após uma picada previamente desdenhada ao virar de lado sonhando ser a cascavel sua amada.

Já nas cidades valentia se mesura ao enfrentar filas imensas à espera da lotação que deveria passar antes das cinco da manhã e ela atrasa mais de duas horas. E o funcionário chega atrasado a sua fábrica, que nem é de sua propriedade. E o patrão injuriado repreende o injustiçado e ele próprio desfere um impropério ao seu chefe dizendo bocarrotamente: “você quer saber? Vai a merda ou vocifera mais alto- vai a pqp seu safado”.

Em todos os lugares, seja cá ou acolá, valentia tem como sinonímia ser impontual ao chegar ao serviço sem ser serviçal. Já que todos seus colegas de farda são puxas sacos do comandante em chefe. E você tá nem aí para as ordens vomitadas como fezes a serem jogadas na latrina. E desobedece intencionalmente as ordens dadas. Pois sempre fazes o que achas correto. Mesmo contradizendo a voz da maioria. Pois não pensas que a voz de Deus vem primeiro o que da sua boca não imunda  emerge.

Mas, pra meu conceito ser valente simplesmente a mim se torna indiferente do que pensa a maioria.

Podem crer que valentia não se mede em números, atos, e contratos feitos sem ao menos lerem as cláusulas contratuais de um negócio em quase fim de negociação.

Ou, pensando com os cotovelos, não com o cerebelo, valentia é o nome dado a fulano ou cicrano. Gente estoica e resignada. Que, ao ver a casa pegar fogo espera o corpo de bombeiro placidamente assentados ás cinzas que advirão dos escombros da casa incendiada.

Deixando de ser covarde deixo aqui. Nestes parágrafos que se seguem, a minha modesta opinião do que seja valentia de verdade.

Bem conheço esse médico. De uma especialidade bem dispare da minha. Conto o milagre e me eximo de contar o nome do santo.

Ele tem o costume de chegar a sua oficina de trabalho bem mais tarde que o meu.

Quem não o conhece pode pensar que esse esculápio, apenas alguns anos mais jovem. Parece um tanto quanto bravo e enérgico no trato com seus pacientes.

Mas em verdade, pra mim, que já me consultei com ele próprio, e seu vizinho de consultório, ele é um amor de pessoa. De cara de pronto fechada. Andando rápido de sua casa, vizinha ao meu apartamento até o prédio pequeno onde ele tem sociedade com seu colega de cabeça branca. Sua secretária, melhor que todos nós, salvo sua linda e andeja esposa e suas simpáticas filhas, podem atestar não apenas a sua competência profissional assim como sua lisura e ética.

Ele, esse valente profissional da medicina, não nasceu na mesma cidade onde nós moramos e exercemos nossa heroica e ao mesmo tempo difícil arte de curar. Ele sim é conterrâneo de um artista da música popular brasileira, conhecido por Bituca (leia-se Milton Nascimento).

Tem não apenas irmãos e irmãs aqui em nossa querida Lavras.

Ele, esse valente médico dos ossos fraturados, tendões, ligamentos, coisas e loisas afins. Em verdade me provou que alguns médicos podem ser fazendeiros. Não como eu que mostrei ter sido um fiasco na lida com vacas e suas crias. Que mal sabia dizer o porquê de o leite ser branco uma vez emerso de uma vaca preta.

Embora não tenha ainda tido o gaudio de ir a sua fazenda cafeeira imagino o quanto ela é produtiva.

Este valente colega de farda sempre deixa a sua caminhonetinha preta parada defronte ao meu predinho logo abaixo.   E quando ele tenta dar partida ela nega fogo mas ele, valente que se mostra, logo faz uma chupeta e seu veículo volta a funcionar.

Ainda bem me lembro de quando, meu último romance- “Por quem os sinos não dobram” foi a ele oferecido, nós nos cruzamos a caminho de nossas moradas, ele tirou cinquenta reais da carteira e me disse: “ tenho de comprar, né”. E comprou.

Como admiro esse corajoso colega não apenas pelo seu denodo em tratar seus pacientes como pela sua coragem em enfrentar galhardamente essa sua enfermidade.

Num dia desses visitei-o aqui pertinho na Santa Casa. Foi uma visita de médico. Embora não sendo seu esculápio gostaria de sê-lo em verdade.

Pois dele, caso fosse seu tratador, de sua enfermidade cruel, tentaria dele sugar um cadinho que fosse de sua valentia e arrojo.

Mais acima, no título, fiz a todos uma indagação: “o que é ser valente”?

Pra mim ser arrojado, denodado, estoico e resignado, a palavra que bem define tudo isso se escreve com estas letras – F A B I O.

 

 

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