Um dos melhores momentos de minha vida foi ver nascer meus dois filhotes. Primeiro um menininho. A seguir uma meninazinha saiu do útero bem guardadinha que estava dentro de minha esposa.
Não sei se passarinhos da mesma maneira se alegram aos ver um filhotinho sem penas eclodir de seu ovinho. E, dias depois saltar do ninho. Tentar seu primeiro voo solo. Afobadinho. Avoando mais perto e pousando numa arvore próxima. Sempre aos olhares atentos de seus pais. E, a seguir, penso que seus pais nunca irão cantar em coro com seu filhote desprendido de sua casa. Um ninho feito caprichosamente de capim e gravetinhos colhidos nas vizinhanças. Pensando estar seguros dos predadores lá vem um gavião faminto e só não come um dos filhotes pois, um dos seus pais está a espreita e impede que seu filho seja levado pelas garras afiadas daquele predador alado.
Voltando ao parágrafo anterior, que versa sobre momentos. Outro infinitamente apetitoso instante desta minha longa existência cito o dia em que me graduei em medicina.
Estávamos nós, cento e sessenta jovens becados, num ginásio esportivo de nossa capital, acompanhados de nossa família. No meio dela uma namoradinha casadoira. De olhos atentos em mim duvidando se ela era a única a compartilhar um cantinho especialíssimo em meu coração.
E, assim que meu nome foi chamado pelo mestre de cerimônia e subi ao palco a receber o lindo canudo em forma de pergaminho. Aquele, de fato, foi um dos momentos mais inebriantes de felicidade que já passei.
Não posso, jamais, deixar de inserir a esses momentos ímpares o dia do meu casamento. Essa efeméride aconteceu aqui pertinho. Como estava linda a igreja matriz. Um longo tapete vermelho se fazia presente da porta da igreja ao altar. Digno de receber a maravilhosa noiva que entrou toda faceira em companhia de seu saudoso progenitor.
O despontar para a vida de meus três netinhos foi mais um instante de júbilo. O primeiro recebeu o nomezinho de Theo. A seguir apareceu do útero fecundo de sua mãezinha querida o lindo Gael. Já o rapa do tacho veio na carinha iluminada do sabidinho Dom.
Ah! Por onde andaria Rakel?
Agora, nesse começo de linha. Neste parágrafo que tem começo. Nesse gostoso momento dessa manhã tão linda. Cinco de maio.
Conto-lhes mais esse maravilhoso instante que desejo repartir com vocês.
Há cerca de quatro anos passados dei começo a mais um romance. Não junto a uma mulher. Pois já tenho umazinha.
E quem seria a sortuda de se tornar minha musa inspiradora merecedora de figurar em mais um livro. Desta vez não mais de crônicas. E sim romanceando meu rico cotidiano.
Foi debaixo da marquise daquele santo hospital, que tem nome de santo. Pois a Santa Casa, pelos serviços prestados aos munícipes não só dessa cidade. Como a tantos pacientes Brasil afora. Não cabem deudas que esse nosocômio deve figurar, creio em primeiro lugar no pódio, entre os mais meritórios.
Ali, dormindo com a cabecinha recoberta por um tosco cobertor surrado. Ao subir em direção a minha morada quando ainda me escondia num belo condomínio na parte alta da cidade.
Demos de olhos numa mocinha. Estava em companhia de minha esposa. Theo já estava no seu apartamento um andar acima onde nos dias de agora repouso meus ossos duros.
Tive a curiosidade de acordar a garota. Mais uma andarilha perdida por acá.
Ela estava vestida numa bermuda que dantes parecia ter saído de uma velhusca calça jeans.
Uma camiseta na moda cobria-lhe os presumíveis soutiens rosados.
Um par de tênis furado na sola descansava ao lado de sua mochila azul.
Estranhei-lhe o corte de cabelo. Era raspado dos dois lados e seus pelos negros eram presos por um laçarote por cima de sua cabeça.
Assim que a fiz sair de seu cochilo, meu relógio mostrava quase meio dia. Acabei por perguntar seu nome.
E ela me respondeu, ainda sonolenta: “Rakel”.
Não tive a curiosidade de saber qual era seu sobre.
Fomos, par e passo, até uma das salas da Santa Casa. Ela me havia dito que precisava de um bom banho. Não de sol pois ela já estava bem moreninha. Pois, andarilhos não se protegem dos raios solares muito menos do orvalho que despenca de cima nas madrugadas frias nas suas andanças costumeiras.
Naquele hospital não havia como ela se banhar. Pensei até levá-la a minha morada para que ela, Rakel, tomasse banho. Minha querida esposa com um olhar de soslaio indicou um retumbante “não”. E eu não tive como não concordar.
O que me chamou a atenção naquela moradora de rua e andarilha foi que ela me disse amar escrever versinhos. Crônicas, como eu, não lhe apetecia.
Em nossa despedida dei a ela como entrar no meu site- www.paulorodarte.com.
Agora, quase sete da manhã. O sol despenca seus raios brilhantes na minha sala e tenho de cerrar as persianas pois meus peixinhos não gostam de luminosidade excessiva.
Gostaria de deixar escrito a vocês.
Um dos melhores momentos que já experimentei em meus muitos anos foi esse que se avizinha.
No dia de ontem pus um ponto final no meu quinto romance cujo nome é o mesmo daquela garota andarilha com quem me deparei cochilando num piso duro de cimento defronte ao estacionamento da Santa Casal há inexatos quatro anos passados.
Agora, finada a revisão, espero pela diagramação que vai ser feita no próximo final de semana.
A seguir iremos ver qual vai ser a capa desse meu novo livro. O de número vinte e um.
E ver um novo produto nascido de minha fecunda inspiração. Podem crer.
Sem dúvidas ou deudas. Ensarta-me o peito um mugido de felicidade imensa. Equiparável ao dia do meu casamento ou nascimento de meus filhos e netos.
A derradeira vez que me comuniquei à personagem desse romance Rakel estava em Santa Catarina. De onde ela me enviou uma missiva por e-mail ao meu site.
Decerto dormindo pelas ruas e pedindo carona para ir mais adiante.
Hoje, a mim e a vocês indago: “por onde andaria Rakel”?