Não é de hoje que aqueles bichos emplumados em verde têm atazanado a vida do velho Chico,
Pra mim as maritacas e capivaras são as maiores pragas de uma roça.
As primeiras se acasalam nos telhados. Fazem ninhos, espertinhas que são, naquele lugar seguro. Protegido das intempéries. E não satisfeitas em não pagar aluguel ainda roem os fios de luz a descobertos com seus bicos poderosos em forma de alicates causando apagões. Não por falta de pagamento da conta de energia. E sim por sua audácia em se aninhar nas lajes onde a chuva não entra.
E as capivaras têm sido um dissabor imenso, principalmente onde existem águas plácidas ou revoltas, onde podem nadar em companhia de sua prole cada vez mais protegida de caçadores, já que se considera crime inafiançável quem ousa abatê-las com um tiro certeiro. E minha espingardinha de chumbinho nem lhes arranha o couro. Empestado de carrapatos nocivos a nossa saúde.
Se um dia tentarem te injuriar chamando-o de vaca não se sinta ofendido. Ao revés, alegre-se. Muito pior se te acusarem de capivara no meu entender não erudito.
Durante as noites Chico tinha o costume de deixar a luz da varanda acesa. A noite mugia a escuridão. O coaxar dos sapos se ouvia. Pirilampos notívagos, com suas luzinhas piscantes, pareciam estrelinhas desgarradas do céu.
Besourinhos batiam cabeça na parede e logo se estatelavam no chão duro de cimento vermelhão. E elezinhos tinham vida curta. Logo devorados pelos sapos a espreita daqueles quitutes sobejamente apreciados pelos batráquios.
Conquanto as maritacas palradeiras avoantes gritavam frenéticas deixando em segurança suas crias protegidas da chuva no abrigo das lajes do telhado.
De vez em sempre se ouvia um apagão. A falta de luz se dava graças à falta de graça das maritacas. Que ao bicar os fios de luz provocava um curto circuito e o desinfeliz Chico Perfumado acordava na escuridão.
Era o momento certo da vingança.
O velho Chico, nos arrabaldes, era tido como cheio dei ideias. Um criativo senhor que inventou, inclusive, um remedinho para dor de cotovelo.
Não carecia receita nem pagar consulta. Bastava somente ir a sua casa e de lá sair alegre rindo de orelha a outra.
Ele benzia o sujeito. Fazia o sinal da cruz e credo. A dor logo se mudava para o andar de cima, de nada adiantando a benzeção. Do cotovelo a dor ia até o joelho. E dai pra diante.
Naquela noite do apagão Chico tomou pra si a decisão.
Não iria mais tolerar a falta de compostura das maritacas. Daria um jeitinho nelas antes que fosse tarde demais.
Vendo os besourinhos morrerem tão cedinho. Sendo depois comidos pelos sapões. Ensinou uma maritaca a se alimentar de besouros. E outras lhe seguiram o exemplo.
Em pouco tempo outras aprenderam. Comendo besouros as maritacas logo eram comidas pelos sapos. E logo prevaleceu o bom senso.
Todas as maritacas do telhado da casa do Chico Perfumado acabaram se mudando para a barriga dos sapos.
Enfim fez-se a luz na escuridão.