Sempre pensei. Desde quando comecei a entender o porquê de tantos porqueres.
Uma vez menino enfiado nas primeiras letrinhas. Olhando-me desnudo no espelho.
Mal sabia eu que anos mais tarde seria um médico especialista em anexos complexos dos rins e vias urinárias. O aparelho genital masculino estava inserido intimamente no andar de baixo.
Já pensando na complexidade com que fomos feitos. Numa fábrica reconditamente instalada no achego do útero materno.
Meus olhinhos inquiridores caminhavam de cima abaixo.
Mais no alto morava a nossa cabeça. Cabecinha caixinha onde se escondia o cérebro.
Se aquilo, que se poderia chamar de órgão, pra minzinho era deveras uma peça fundamental etc. e tal.
Aquela parte de nosso corpo era onde moravam celulazinhas irrequietas. Chamadas de neurônios. Elas não paravam um instante sequer. Moviam-se freneticamente de um lado pro outro como se fossem garotinhos soltos na rua em brincadeirinhas que só cessavam quando nossas mãezinhas nos chamavam pra dentro de casa. “Joãozinho. Entre na sua casa. Já é hora de fazer os deveres de escola. Aquite-se menino”.
Uma estrutura feita de músculos, aponeuroses, veias, artérias, e um tufo de ossos empilhados uns sobre os outros. Que varia segundo seu comprimento é ela que une a parte de cima ao resto do corpo. A ela chamo pescoço.
Não se trata de um órgão propriamente dito. O tal pescoço é a estrutura que nos permite olharmos de lado. E pode enrijecer quando o esforço é maior a que estamos acostumados.
No meio inexato da gente mora uma caixa que acolhe órgãos de suma importância.
Trata-se de um envoltório que chamamos tórax. É onde se alojam os dois pulmões. No meio fica o coração. Quando não somos dextrocárdicos. E tem gente, de coração amanteigado. Que se condói tanto da dor alheia. Que chora por ele gotinhas de sangue. Pessoas boas que exalam sentimento por todos os poros e também me fazem chorar.
Mais abaixo fica o abdome. Caixa excretora que agrega os rins. O intestino, um longo tubo por onde é ejetada a comida que a gente come. Nuns mais noutros menos. E finalizando no reto que poder ser tortuoso. Não tendo a retidão de pessoas integras. Ah! Não podia me esquecer daquele órgão. Pobre dele quando seu dono bebe demais. O fígado sofre as mazelas das mesas de bar. Seu compadre, o pâncreas, também pode ser vitima de álcool em excesso.
Enfim chegamos aos meus órgãos prediletos. Afins da especialidade que elegi.
Os rins excretam as podriqueiras que nosso organismo consome. E pedrinhas marotas podem empacar pelos ureteres abaixo.
A bexiga é a caixa d’água onde a urina para antes de sair pela uretra afora.
No seu caminho até o exterior esbarra-se numa glândula que perde a serventia quando a gente envelhece. Quantas próstatas já tive de jogar no balde.
E o pênis? Ele fica velho como a gente? E quando idoso passa ser apenas uma coisa obsoleta que apenas serve pra urinar? Existem os que pensam assim.
Já meu compadre. O velho de idade maior que atingiu Matusalém. Dizem que Seu Antenor já dobrou os cem.
Glutão desde criancinha. “A melhor hora do dia é sempre a de almoçar e jantar”. Diz e não renega o dito.
Quando a ele perguntam qual o órgão mais importante do corpo humano ele sempre responde. Na sua banguelice que não desfaz da sua dentadura novinha.
“São os dentes. Se perder mais um não sei o que vai ser de mim.”
Não deixo de concordar com ele. Pra mim é igual.