Eis que dezembro assinala que o final de ano chegou.
Benditas férias! Isso se as notas foram boas e me permitiram concluir o ano letivo depois de um estudar com afinco. Aprovado que fui mesmo naquela matéria que nunca me foi de meu inteiro agrado. Ah! A matemática não me seduzia. No entanto dos entretantos aquela professorinha. Moreninha, da cor do pecado, me fazia pensar em pecar. Mas ela não tinha olhos pra mim. Alguns anos apenas mais velha, mais parecia uma coleguinha.
E euzinho, garoto traquinas. Assentado na primeira fila do gargarejo. Não tirava os olhos do quadro negro. Mas de vez em quando meus olhinhos sonhadores se desviavam dos números. E acabavam pousando onde não deveriam. Vocês já sabem onde. Não preciso concluir.
Dezembro sempre foi pra mim um mês especial.
Dia sete. Bem no seu começo. Aniversario. Mais alguns dias recai no Natal.
Pena que euzinho. Naqueles tempos idos. Só ganhava um presentinho. Ossos do oficio para quem faz anos naquele mês tão festivo.
Eis que dezembro abanava os galhos das jabuticabeiras da rocinha da Cachoeira naqueles idos anos aos cuidados de minhas tias avós.
Tias Mariana e sua irmã Leonor já nos esperavam naquela casinha linda. Com sua mesa farta. Comida feita no fogão a lenha cujas chamas ainda crepitam nas minhas lembranças. Ávidas por receber a sobrinhada vinda de Perdões. De sobrenomes Alvarenga como minha querida e saudosa mãe.
E eu vinha aqui de Lavras. Ainda menino. Naquela jardineira que me deixava alegre. E apeava na casa do meu tio avô Geninho. Marido amado da tia Terezinha. Mãe do Paulinho e da Eliane. De cuja hospitalidade até hoje desfruto. Pena que meus tios tortos já não vivem mais. E fazem companhia a minha mãe no céu.
À rocinha da Cachoeira ia sempre. E lá passava um mês inteirinho. E dezembro. Mês chuviscoso. As jabuticabas amadureciam. E nós, garotos irrequietos, disputávamos aquelas frutinhas doces com os marimbondos e abelhas abelhudas.
Bem me lembro daquela baciona onde nos davam banho. E eu, todo ensaboado, não via a hora de me enrolar na toalha felpuda tentando esconder minha vergonha daquelas tias solteironas.
Que saudades me ensejam daquela enorme mesa surtida com tantos quitutes feitos com todo capricho por minhas queridas tias avós.
Era ali que nos reuníamos. Felizes da vida que nos esperava naquele lindo mês de dezembro.
Num corguinho serelepe escorria água cristalina. Um carneiro que não balia e apenas tiquetaqueava fazia às vezes de uma bomba d’água. Quando parava seu tique taque era sinal que alguma coisa errada acontecia. Ou o córrego estava entupido por galhos ou uma sujeira qualquer obstruía o fluxo d’água.
E aquele galo carijó? Como eu o invejava. Com tantas fraguinhas novinhas a namorar e eu ficava apenas pensando naquela linda professorinha de matemática que nunca me deu bola. Também sempre fui um grandíssimo perna de pau. Que nunca fez um gol sequer.
Na noite de ontem pensei ter voltado à infância. Percorri o mesmo caminho de dantes. Pensei ter ido à rocinha da Cachoeira.
Mas lá a realidade é outra.
Minhas tias avós não existem mais. Elas agora fazem goiabada no céu. O tio Julio pastoreia suas vaquinhas noutro pasto. Meus primos de Perdões já cresceram e talvez nem se lembrem mais.
Já eu. Cada vez mais distante da minha infância. Continuo mais saudoso ainda dela. Pena que nos dias de hoje só me restam lembranças. Daqueles tempos bons que não voltam mais.