Se eu pudesse escolher…

Já me disseram isso e entendi o recado.

Acabei me afastando, pois ainda a amava.

As escolhas são nossas em certo ponto da vida.

Recém nascidos não temos a capacidade de escolher nem ao menos a roupa que vestimos. Cabe aos nossos pais a escolha. Se meninos ou meninas, a cor elegida para usarmos por um tempo.

Uma vez o tempo passa mais uma vez somos intimados a escolher. Qual presente nos vai ser dado tanto no dia de nosso aniversário como na data máxima da cristandade que quase coincide com minha mudança de anos. Dezembro sete completo setenta e cinco. Um ano a mais onde me encontro.

A escolha do meu primeiro presente nem me recordo mais qual foi. Afinal são tantos anos passados. Tantas datas celebradas. Tantos dias e meses me olham com olhares nostálgicos. Que minhas lembranças passarinham como pássaros em vôo sem saberem onde pousar.

Escolhas mais tardias foram de minha total definição.

Aos dezoito anos. Cônscio de que podia caminhar pelas próprias pernas iludi-me. Voltei, como filho pródigo, a casa dos meus pais.

Já havia decidido qual caminho seguir. A medicina foi de minha total escolha. Não fui recomendado por nenhures. Fui o primeiro Rodarte a escolher tal difícil caminho. E por ele me apaixonei. Depois de nove anos de estudos e especialização.

Foi uma pedrinha encalhada num trajeto até certo ponto curto. Entre o rim e a luz do dia. Não sei se foi durante a noite que ela foi desalojada de minhas vias urinárias. Depois de um ano inteiro entre dores e lamentos. Graças ao concurso de um colega da mesma especialidade que abracei. Que acabei escolhendo a urologia como partner. Que até hoje me acompanha par e passo. As passos mais curtos de quando aqui cheguei vindo da Espanha.

Aos quase trinta tinha de escolher entre viver só. Naquela casinha modesta onde vivi nos primeiros anos quando aqui apeei. Ou me juntar a outra pessoa com a qual pudesse repartir minha solidão.

Foi uma escolha acertada, creio eu. Não sabia cozinhar. Lavar, muito menos.   Costurar era da predileção da mulher com quem me consorciei.

Essa escolha perdura por quase uma vida inteira. Espero que pela outra vida ela me acompanhe.

Aos mais de trinta escolhi. Em acórdão com minha mulher. Dividirmos. Noutra morada, edificada a duras penas por mim mesmo. Uma casona enorme que hoje se transformou numa escolinha. Onde crianças. Como eu fui um dia. Passam horas, ou brincando, ou aprendendo as primeiras letras. Foi naquela casa. Que daqui mal se deixa ver. Que comecei minha vida profissional. Da qual não pretendo me afastar até o final dos meus dias.

Escolhas continuam a ser feitas nessa minha mocidade perdida.

Um casal de filhos creio não ter sido escolha só minha. Ela teve a participação da mulher a quem escolhi depois de dez anos de namoro. Não sei se ela me elegeu como seu esposo ou foi por insistência minha.

Afinal são, contando os dez de namoro. Os outros passados na mesma morada. Contabilizo nos dedos um montão deles.

Não pude escolher quem seriam meus pais. Nem ao menos a cidade onde iria nascer.  A decisão da escolha de  quem seria no mais tardar dos anos foi minha. A mulher com quem iria me casar foi, além de acertada. De nós dois.  Ter dois filhos e três netos não tive participação única na escolha. Essa decisão reparto com meus dois filhos e minha mulher.

Nessa caminhada pelas estradas da vida. Se pudesse escolher por onde seguir. Tenho certeza que faria tudo de novo. Se sou um cadinho feliz devo a eles todos.

A gente, quando pode escolher, tenha a certeza que foi uma escolha acertada. Pois, se não, torna-se difícil retroceder.

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