Desventuras amorosas de um Tom Zé apaixonado

Dizem ser hoje, doze de junho, essa quarta-feira que mais parece inverno. Tal a temperatura gelada que amanheceu nesse dia. Quando se celebra um dia especial – dia nos enamorados.

Ainda me lembro da minha primeira. Não foi a única nem a derradeira.

Faz tanto tempo que quase me esqueci. Puxando pelas lembranças. Trasladando-me anos atrás. Creio, se não me atraiçoa a memória. Foi uma garotinha não acanhada. Minha coleguinha de primeiras letras. Que, assentada a uma carteira defronte a minha. Numa cruzada de perninhas morenas. Da cor do pecado.  Acabou deixando a mostra sua falta de decoro, pois ela não usava calcinha. E euzinho, encabulado. Acabei convidando-a a um cineminha. Desde que cada um pagasse a sua entrada. Pois, naqueles idos anos a minha mesada era insuficiente para nós dois.

Ainda me lembro. Naqueles verdes doces anos da minha infância intensamente curtida. A gente, uma vez no escurinho do cinema. Assim que a luz se apagou. De mãos dadas acabei afanando-lhe um beijinho. Ao que elazinha não regateou a minha investida e nem ao menos impediu de ir adiante. Terminamos aquela noite memorável cada um na sua casa. Já que ambos éramos menores de idade. E convenhamos. A prudência me intimava a deixar intacto seu selo de castidade embora não soubesse se aquilo já tinha sido violado dantes.

Passaram-se anos. Sobrevierem desenganos. Outras namoradinhas passaram a fazer parte de minha vida pregressa. Mas acabei encontrando a definitiva no rela do jardim. A qual até nos dias de hoje considero-a como a primeira e talvez seja a derradeira. Que os cupidos digam amém. O nome dela assemelha-se ao de uma flor. Minha Rosa que não se chama rosa. O correto é Rosemirian.

Já meu preclaro amigo. Um vzinho de cerca que tem zelado pelo meu Solar. Morador solitário de uma casa meio mal assombrada pertinho de onde desejo morar ao final dos meus dias. Seu nome se escreve Antônio José Pedroso. Mas para descomplicar acabei abreviando para Tom Zé.

Aos mais de quarenta primaveras ele sempre se encontra no verão. Caboclo bom de prosa, mas não um falastrão. Pau pra toda obra. Fala pelos calcanhares. Mas quando no trabalho se cala não.

Desde quando o conheci ele mora sozinho. Aprendeu a cozinhar e sabe lavar as próprias roupas num tanquinho improvisado num rego d’água nos fundos de sua morada. Sabe de tudo um cadinho. Desde que não o peçam para fazer um churrasco, pois ele salga mais que o devido.

Meu amigo Tom separou-se da primeira esposa. Com quem deixou como legado uma cria linda. Depois da separação ele vive na companhia dele mesmo. Dorme numa cama cercado de morcegos e ratazanas um tanto obesas.

Mas, como nem tudo são flores. Tom Zé um dia saiu à procura de uma companhia com quem repartir a solidão. Acabou encontrando-a numa mesa de botequim mal afamado na cidade pertinho chamada Ijaci.

Encantou-se com uma louruda oxigenada na mesa do lado. Depois de um flerte rápido assentou-se do lado da pseudo ela. Mas ao final da noitada tudo que parecia não era nada daquilo que ele pensava. A loura era mais falsa do que uma nota de dez mil reais. Ainda bem que ele percebeu a tempo de um contratempo. O nome de batismo da loura era Benedito segundo a certidão de nascimento.

Não satisfeito meu amigo Tom voltou a investir. Não na bolsa de valores. E sim numa rapariga que se dizia virginal no primeiro encontro. Mas ela tinha mais horas de leito que urubu velho de vôo. Foi mais uma cruel decepção que quase o levou ao fundo de um poço vazio. Por sorte ele se levantou. Graças aos pais que sempre estiveram ao seu lado direito.

A terceira conquista meu amigo Tom descobriu numa festa junina que aconteceu no mês de julho entrante. Por ela se encantou no primeiro encontro, mas logo veio o desencanto.

A tal parecia uma santinha, mas logo se mostrou de pau ocado. A tal, sem teto, parecia ser boazinha. Só nas formas pecaminosas. Por dentro prestava menos que um tostão furado. Ela, ao final de alguns meses. Morando junto. Acabou levando dele as chaves do carro recém comprado num consórcio. Com mais de uma infinidade de prestações vencidas. E suas economias todas que meu amigo Tom escondia num colchão de palha furado. E ela acabou descobrindo toda aquela quantia depois de uma noite mal dormida depois de fazerem amor de mentira.

Depois de mais essa roubada meu amigo Tom desconjurou reencontrar o amor. Até que lhe passou pelas ventas outra mulher. Dessa vez parece que vai dar certo. Senão não sei se o Tom Zé vai resistir a mais essa desventura amorosa. Tomara dê certo. Um coração apaixonado pode se fragmentar com mais uma desilusão.

O meu permanece quentinho mesmo numa noite de muito frio. Enrolado ao achego da minha querida rosa flor. Quase sem espinhos.

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