Como o tempo caminha a passadas largas.
Numa correria desenfreada ele já desaparece ao longe.
Mal se o podemos ver na curva da estrada.
O tempo já subiu o morro e se perdeu de vista.
Quando nos vemos já se passou a infância. Doces lembranças nos acompanham.
Lá longe posso ver minha bicicletinha de rodinhas amarelas abandonada a um canto desleixada depois de ficar pequenina para as minhas pedaladas. Elazinha teve de ser trocada por uma maior quando euzinho espichei um bom bocado. E minhas pernas tocavam o chão de terra batida, naquela mesma rua que no dia de hoje não se deixa ver devido à escuridão.
Parece que o ontem se foi deixando um rastro de saudades da minha meninice peralta. Quando, no meu aniversário de dez anos, movido pelos hormônios em efervescência me trancava no banheiro e só pensava naquela meninazinha. Minha linda coleguinha de tempos passados. Aqualzinha, num descuido intencional. Numa cruzada de pernas lisinhas deixava a mostra a sua calcinha. Melhor ainda quando elazinha não usava. E, desnuda exibia sua intenção de me deixar excitado. Quase sempre pedia a professorinha para ir ao banheiro. A fim de ver desinchar meu amiguinho do andar de baixo. Que cabisbaixo retornava a sua posição inicial.
Parece que foi ontem que, voltando os olhos a mão esquerda. Vi-me morando naquela mesma casa que hoje foi demolida. Em companhia daqueles que me deram a vida. Meus saudosos e queridos pais.
Até parece que o ontem se foi. Perdido nas lembranças mais ternas. De quando eu, jovenzinho ainda. Aos quinze anos fui pilhado em fragrante tentando pular o muro na intenção de chupar jabuticabas madurinhas na horta do vizinho da casa ao lado. Foi quando um canzarrão bocudo correu atrás de mim. E fui salvo de uma mordida dolorida por um acaso. Pois o tal vizinho amigável acabou contendo o ímpeto mordedor de seu cão vigia. Ainda bem que a tal mordida ficou no quase.
Parece que o ontem ainda está bem vivo dentro de mim. Pois bem me lembro dos meus vinte anos. Quando aprendi que deveria confiar apenas nos verdadeiros amigos. Quando um deles me prometeu amizade verdadeira. Mas na primeira oportunidade me atraiçoou. Roubando-me aquela linda garota. Pela qual pela vez primeira me apaixonei de verdade verdadeira.
Parece que o ontem se foi. Desaparecendo na bruma do tempo. Deixando saudades de mim criança. Doces recordações de um passado ainda redivivo.
Parece que foi ontem que comecei a escrever. Já na maior idade. Na noite quando meu pai se foi para morar na eternidade. E a partir de então não parei mais. Espero que a minha parança se dê na noite de São Nunca. Já que nunca mais desejo parar de escrever.
O ontem se foi. O amanhã amanhã será.
Até que eu desapareça daqui pretendo continuar a pensar noutros ontem. Já que o passado me inebria. Vivendo no presente cortejo boas recordações do que o ontem me trouxe de bom.
Parece que foi ontem que eu nasci. Mas faz tanto tempo que quase me esqueci. Mas me lembro bem de tudo aquilo que passei. Doces lembranças que pretendo preservar.
Parece que foi ontem que te conheci. Mas tenho sua imagem sempre presente aqui. Minha querida mãe. Prometo guardá-la sempre onde quer que eu vá.