Parece que tudo já foi dito sobre mães.
Que elas são insuperáveis. Que só sabem zelar de nós. Que o amor que elas dedicam aos filhos não há quem o faça igual. Que as noites de sono que elas perdem não fazem falta aquelas pessoinhas puras. Para as quais o amor é a expressão maior de uma palavra sempre repetida. E elas, as mães, não só parem e não sentem dor. Embora o ato de parir seja carreado de dores e sofrimento. Mas o que elas sentem, se dedobram ao cuidar dos filhos. Compensa e muito aqueles momentos quando expulsam o concepto. E, ao verem aquelas carinhas lambuzadas naquele liquido protetor. Todo sofrimento, toda e qualquer dor, se esvai como a chuva que cai. Inundando de amor seu rebento.
Mãe – três letrinhas apenas. Mulheres incomparáveis. Seres oriundos dos céus. Prontas a cuidar, amar, se desdobrar em mais de dez sendo apenas uma.
Não somente hoje, nessa sexta feira que antecede o dia delas, me lembrei da minha.
Uma enxurrada de lembranças me passou pelos pensamentos.
No dia quando nasci, tanto tempo faz, não me lembro das circunstâncias em que tudo aconteceu.
Não foi nessa cidade o ocorrido. Ignoro se foi num hospital o meu nascimento. Só sei que pouco sei. Detalhes não fui informado.
Uma vez apenas passei no sobrado onde nasci. O nome da rua era Coqueiral de número 155.
Ainda me lembro do galinheiro onde fui pilhado entre galinhas brancas. Peladinho como vim ao mundo. Quase perdi minha fimose.
Tempestades de recordações me passam pelas idéias.
Já aqui, nessa cidade que considero minha, embora seja apenas uma madrasta, naquela rua que daqui se avista a mão esquerda, foi onde passei a minha infância ao lado dela.
Tinha apenas cinco anos. Era um garotinho ainda.
O jardim da infância foi passado logo à frente da casa dos meus pais. Seu nome era Narizinho Arrebitado. Era uma salinha modesta num cômodo no andar de baixo do velho hospital. Agora esse jardim da infância não existe mais. A minha infância também se foi.
Minhas primeiras letras foi de um alegre aprendizado. Minha saudosa mãe era quem preparava a merendeira. O colégio é o mesmo onde estudam dois de meus netinhos.
Verdes anos passei ao lado deles. Naqueles bons tempos da Costa Pereira um cãozinho de nome Rebel era meu companheiro. Uma enxurrada de lembranças percorre minhas artérias naquele dia ingrato quando Rebel morreu numa briga de rua com um canzarrão muito maior que ele.
Saudosas e tristes recordações da minha infância ao lado dela.
Nas férias de final de ano era na rocinha da Cachoeira que íamos de encontro aos primos de Perdões. Cidade vizinha a nossa Lavras. Terra dos Alvarengas aparentados de minha mãe.
Passei ao lado dela até aos dezoito anos. Foi quando me mudei para a capital. Foi uma separação tão doída quanto a dor do parto. Pra mim foi. Creio que pra ela também.
Mas sempre voltava ao encontro dela. E aquela casa, daquela mesmo rua, me recolhia aos braços dela.
Assim foi até muitos anos atrás. Uma tempestade de lembranças continua a me atazanar as idéias.
Já médico feito não me olvido de minha querida mãe.
Embora morando em outra residência em sua casa passava à hora do almoço. E como ela cozinhava bem.
Minha mãezinha, já de mais idade, temia enfermidades. Sempre me perguntava. E eu respondia que ela iria viver muitos anos mais.
E essa previsão durou até quando ela chegou aos oitenta e três.
Sete de junho ela aniversaria. Se ela estivesse presente na data de hoje ela iria completar mais que um centenário.
Um temporal de lembranças me passam pelos pensamentos. Minha mãe vai estar ausente no dia delas. Mas sempre presente nas minhas lembranças mais ternas.