Sem palavras

Quantas e quantas vezes senti que as palavras gostariam de sair, mas não conseguiram.

E elas ficaram guardadas dentro da boca sem emitir nem um pio.

Travadas sem saber o motivo. O qual atribuo à emoção. Ou talvez a sofreguidão e a pressa que me consumia naquele momento ímpar. Quando estava prestes a receber uma pessoinha amada. Que acabou não chegando à hora marcada. Que se atrasou devido a um imprevisto qualquer.

O silêncio por vezes substitui o nosso desejo de proferir palavras. Que não saem e ficam grudadas em nossa língua. Prestes a deixar atestado o quanto amávamos aquela pessoa. Ausente de nosso enlace há anos atrás.

Palavras por vezes ferem mais que um punhal ensartado bem fundo em nossa pele clarinha. Elas devem ser ditas com muita cautela. E pensadas e repensadas antes de serem proferidas.

Já fiquei sem palavras em muitos instantes de minha vida.

Ainda me lembro do dia mais triste de minha existência. Foi num dia de sol. Estava quente e não chovia.

Um telefonema me chamou às pressas aquela casa que nos dias de hoje só existe em minhas saudades. Era minha mãe que arfava por falta de ar.

Levei-a ao hospital aqui pertinho. Entramos juntinhos e tomamos o elevador.

Adentramos ao centro cirúrgico onde já me esperava um colega. Foram debaldes as tentativas de inserir um marca passo em seu coração que claudicava.

Naquele momento mal conseguia pronunciar palavras. Elas foram substituídas por lágrimas ao pressentir a partida de minha querida mãe ao céu. Depois o silêncio tomou conta de mim. E me acompanhou até o campo santo. Onde minha mãezinha esta sepultada junto ao meu saudoso pai.

Anos se foram. As palavras ainda saem de minha boca. Se bem que prefiro deixá-las gravadas em crônicas para que o tempo não as apague.

Nestes dias em que o país todo veste luto as palavras ainda ficam insepultas entre serem ditas ao lume dos dias.

Ao assistir aquela tragédia acontecida mais ao sul. No Rio Grande, nos pampas gaúchos. Quando vejo pessoas sendo resgatadas em barcos improvisados. Perdendo tudo menos a dignidade. Não tenho como soltar palavras. Elas ficam presas dentro de mim.

Ao ver criancinhas boiando na enchente não me atrevo a pronunciar palavras. Apenas oro ao pai do céu. Para que ele acolha aquelas alminhas puras sem seu reino celestial.

Quando vejo o sofrimento de nossos irmãos sulinos não tenho como dizer palavras. Apenas agradeço a graça de sermos poupados de tal calamidade.

As palavras me faltam ao ver tanta desgraça. Só peço que a chuva dê uma trégua para que aquele povo heróico possa voltar as suas casas.

Sem palavras ao ver animaizinhos em meio aquela aguaceira toda. Que eles sejam resgatados inteiros e retornem aos seus donos.

Não tenho palavras para expressar minha solidariedade.  Gostaria que elas saíssem de dentro de mim em momentos mais felizes. Quando a enchente cessar. Quando o Rio Grande do Sul voltar a ser aquele estado a ser copiado. Pelo valor de seu povo. Pelos exemplos que nossos irmãos do sul deram a nossa história.  De patriotismo. De solidariedade manifesta nessas horas trágicas que estão passando.

Faltam-me palavras para manifestar meus sinceros votos que tudo aquilo que estão passando seja superado na maior brevidade possível.

Sem palavras mais me despeço de vocês, valorosos gaúchos. Gente a ser cultuada como verdadeiros heróis que são de verdade.

 

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