Ontem, domingo, quase a hora do almoço, em companhia de dois dos meus netinhos, Theo e Dom. Tentando acompanhá-los em seus folguedos. Acabei desistindo. Já que os dois só se interessavam por seus tablets. Jogando joguinhos pela internet. Nem ao menos davam atenção ao seu avozinho.
Foi naquelas horas mágicas que me vieram às lembranças coisas e loisas da minha infância. Cujos anos não voltam mais.
Maldita pontualidade! Que me faz deixar a cama quentinha nesse começo de outono.
E sempre aqui chego antes que o sol ilumine a rua inda deserta. Caminhando metros exíguos até chegar a minha oficina de trabalho. Onde ainda exerço a urologia até um dia. Ainda bem que a arte da escrita me faz tanto bem. Sem ela não sei o que seria de mim.
Mas confesso sentir falta dos velhos tempos.
Quando eu, ainda menino. Ficava na cama sem desejo algum de ir à escola. É minha mãezinha me tirava do leito me lembrando das horas. E euzinho ainda tinha de fazer os deveres. E só me era permitido brincar após as tantas horas. E eu, bom aluno. Comportado até certo ponto. Não via a hora de sair de casa. Para encontrar os amigos da Costa Pereira. Com eles entrar naquele clube pertinho da varanda da minha morada. E jogar finca. Cricar bolinhas de gude. E mais embaixo, acredito que o campão de futebol já existia no mesmo lugar. Disputadas peladas jogávamos nós. Éramos felizes e bem o sabíamos.
Sinto falta dos tempos de outrora. Quando tínhamos hora de voltar a casa. E se não chegássemos à hora marcada nos esperava á porta uma reprimenda ou um puxão de orelha. Ou um castiguinho assentados a um baquinho virado ao revés da televisão. E só podíamos assistir a desenhos animados depois de ver completada a lição. Sob a supervisão atenciosa de nossa mestra que naqueles verdes anos era a nossa mãe.
Sinto muito a falta das travessuras de outrora. Que eram tão distintas das de agora. Quando não existiam os tais celulares e modernidades afins. Quando a gente nem de longe pensava ser gente. E só brincadeiras de roda faziam as garotinhas de outra hora se ruborizarem todinhas pensando no garotinho moleque que um dia a elas lançou olhares de sedução. Mas não foi nadica de nada. Apenas um olhar perdido extraviado do quadro negro. Naquela aula aborrecida de aritmética. Matéria que me fez perder as férias de fim de ano quando tive de fazer recuperação.
Sinto muita falta do achego macio do colo de minha mãe. Quando ela me consolava por ter sofrido malvadeza na escola. Antes, bem dantes, desconhecíamos o que seria a palavra bullying. Pra nós era pura sacanagem o que faziam com a gente na escola. Por termos nascido com alguma coisa diferente dos demais.
Sinto falta ainda das reprimendas ou castigos por termos feito alguma arte ou desvios de comportamento. Éramos punidos exemplarmente com um singelo olhar de repreensão. Ou um puxão de orelha que doía, mas logo passava. Ou umas palmadas merecidas em nossos traseiros roliços. Que ficavam vermelhos como tomate bem maduro.
Sinto tanto a falta da missa das dez. Que terminava com o dizer do padre: “vão em paz o Senhor os acompanhe”. E a gente, garotos inconsequentes, íamos em corrida destrambelhada ao rela do jardim. Pra ver aquela linda menina de trancinhas trançadas. Toda pudica a nossa espera. Mas não éramos nós e sim outro igualzinho a mim.
Sinto muito a falta das férias de final de ano. Quando naquela rocinha a gente passava o mês de dezembro inteirinho. Na companhia muito auspiciosa de umas priminhas lindas que vinham de outra cidade. Hoje conhecida como cidade do ET.
Sinto falta de tanta coisa. Pena que estas coisas foram deixadas num passado perdido no tempo. Tempinho bom que, infelizmente, não volta mais.