Algumas de minhas poucas alegrias

A vida é entremeada de momentos felizes e nem tanto.

Por vezes a tristeza impera. Momentos outros a alegria prepondera.

Mas nem sempre nos deixamos dominar por instantes tristes.

Carecemos de transformar aquilo em aquiloutro. A tristeza que tentava entranhar em nossas entranhas de repente toma cores mais alegres. Como o amarelo que se cobre o sol. Ou até mesmo o verde mata que tinta matas com a cor das maritacas palradeiras em busca de jabuticabas maduras que se tingem de preto ao final do ano.

De dentro do meu eu tento enxotar a tristeza que tenta se enraizar dentro de minhalma.

Ela, e eu, ao mesmo tempo em que a felicidade deixa de existir. Transformando a escuridão da noite em luz que alegra meu viver. Somos participes de uma mesma verdade. Temos nossos momentos felizes. Mas por vezes a tristeza toma assento dentro de mim. E não sai mesmo que tente a ela pedir que saia.

Já o meu amigo, conhecido de longos anos, de nome Arnaldo. Um dia encontrei-o cabisbaixo assentado a um banco da praça.

Há tempos não o via.

Segundo notícias que escorriam de boca em boca ele acabara de terminar uma relação que já perdurava por mais de trintanos.

Por absoluta incompatibilidade de gênios ele e sua esposa chegaram a um consenso. Era agora ou nunca me disse ele.

Percebi-o tristonho.

Semblante carregado, olheiras profundas sulcavam-lhe a face. Cabelos em desalinho. Noites indormidas.

Arnaldo, naquela hora tardia, pediu-me que assentasse ao seu lado.

Fi-lo de bom grado.

Acabamos pondo a prosa em dia. Embora fosse quase noite.

Ele assim me confessou.

“Paulo. Acabei de sair de casa. Não suportava mais viver ao lado da Maria. Temos quase a mesma idade. Dois anos nos separam. Ela e eu não tínhamos mais diálogo. E como ela fala. Ou melhor, vocifera como uma besta fera. Pra ela tudo que tenho feito não tem valor. Já estou aposentado pela metade. Evito chegar a casa. A rua é meu abrigo. Esse banco tenho por ele a maior estima. Ele acolhe meus fundilhos sem reclamar. Aqui chego ao cair das tardes. Se pudesse nele dormiria. Bem melhor que no meu leito macio. Eu e minha esposa quase não nos vemos. Melhor ainda. Ainda me lembro dos melhores anos de minha vida. Quando nos casamos. Na lua de mel quando ela me disse estar grávida de nosso querido filho. Anos se foram. As desavenças tomaram parte de nossa existência. Nosso filho querido, depois de lutar contra uma doença que lhe tirou a vida, foi como se a nossa tivesse tido fim. Nunca mais tivemos sossego. Ela e eu ocupamos espaços distintos daquilo que deveria ser chamado de lar.

Minhas poucas alegrias hoje são lembradas. Entre elas constam – o nascimento de nosso filho. O primeiro banho que nele dei. A sua risadinha na noite de natal quando lhe fiz presente uma bola de futebol. O gol que ele fez durante uma partida num campinho cambeta junto aos seus coleguinhas. O boletim que ele me trouxe recheado de noves e dez. A sua colação de grau no curso cientifico. E quando ele me disse que gostaria de cursar medicina. Quiseram os anos que ele fosse chamado ao céu. Foi o dia mais triste de minha vida. Agora aqui estou. Decidido a não voltar a casa. Eu e Maria não temos mais solução. Foi preciso coragem para tomar essa decisão. Espero que esse seja mais um momento feliz na minha vida. Até na presente data quase só ajuntei tristezas. A felicidade a tenho quase em minhas mãos. Espero que ela não escape dessa vez.”

Despedi-me do amigo Arnaldo desejando a ele boa sorte. Espero que ela não o abandone dessa vez.

 

 

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