Não deveria ser- antes só do que mal acompanhado?
Por vezes a solidão pesa em meus costados.
Ouvir o murmúrio silencioso do silêncio. Isolado em companhia de si mesmo. Num lugar deserto e afastado de tudo e de todos. Por vezes pode ser uma opção elegida como única e aprazível.
Já que estamos solitários numa ilha cercada de mar por todos os lados. Não nos é possível dialogar com coqueiros. Cocos não ouvem e não falam com a gente. Peixes da mesma forma quase não abrem a boca. Apenas nadam e respiram debaixo d’água.
Interlocutores são impossíveis de serem encontrados naquele pequeno pedaço de terra isolado do mundo ao derredor. Pessoas não são vistas mesmo se convidadas. Somente nós e nada mais.
Hão de convir comigo que certas companhias além de desagradáveis nada acrescem ao nosso bem estar. São como aqueles isolados numa casa as vistas de espectadores conhecidos como brothers. Cuja fama não dura mais que uma semana. Se tanto.
No entanto, confirmando meu título. Em acórdão com meu dito.
Que se intitula – antes mal acompanhado que na própria companhia.
Tenho por sua pessoa uma estulta admiração.
Seu nome é apenas Zé. Não sei o sobre que ele assina.
Zé vive na própria companhia dele mesmo. Desde quando enviuvou há anos passados.
Tinha pela amada esposa um amor sem igual. Ambos não se desgrudavam como crianças com seus tablets.
Mas, quis o destino que, naquela linda manhã de outono, sua linda mulher da vida se despediu. Foi o dia mais triste de sua existência. Ele com apenas trintanos. Ela aos menos de vinte e cinco.
Desde então Zé passou a viver só.
Numa casa velha e isolada do resto do mundo.
Ele pensava que se bastava. Acostumado à solidão fazia tudo sem pedir ajuda a ninguém.
Sabia cozer. Lavar uma penca de roupas não era nada pra ele. Era ele e mais ninguém naquele velho casarão.
Zé acordava ao cantar do galo. Nem ouvia as galinhas saírem do ninho.
No entanto, numa noite chuvosa, uma aguaceira acabou destelhando parte do telhado. Goteiras caiam do lado de dentro da velha morada.
Zé amanheceu ensopado. Uma gripe se instalou em seus pulmões enfraquecidos pela idade.
Daí a uma pneumonia foi um pulo de poucos metros.
Zé, a partir de antão, ficou acamado. Não tinha ninguém a cuidar dele.
Foi quando acabou mudando de opinião.
Desde quando sua amada esposa fechou os olhos para sempre Zé vivia em confinamento. Era ele e só.
A partir daquele dia malogrado, quando caiu enfermo, a vida passou a ter outro rumo. Como um barco a deriva num mar revolto.
Zé já contava com mais idade. Já ultrapassava os sessenta. Beirando os tantos entas.
Naquela noite chuvosa ele teve um sonho. Despertou em sobressalto.
Revirou as cobertas. Amarfanhou o travesseiro. Sua única companhia desde a morte da esposa.
Naquela manhã outonal. Céu tinto num amarelo vivo.
Zé não pensou duas vezes. A primeira mulher que passou por ali teve guarida.
E passaram a viver juntos. Não importando se ela seria uma boa ou má companhia.