Bom humor, gente que te eleva pra cima, pessoas em quem o sorriso ilumina o entorno obscuro, gente alegre e de bem com a vida, mesmo que essa não seja tão sorridente. São essenciais para nos acompanhar.
Rodei-se delas. Evite gente negativa. Elas nada contribuem para que o mundo seja tinto em cores vivas lindas como essa manhã de outono. Fresca, uma brisa suave afaga-nos os cabelos. Mesmo que sejam eles parcos. Como os meus pelos lisos que se esvoaçam a menor ventania.
Eu tento acordar de bom humor. Mesmo se as contrariedades se manifestem dentro de mim.
Saio do apartamento a mesma hora costumeira. Quase sempre a rua se mostra vazia. Mas meu âmago se locupleta de inspiração. Que quase consome meu intimo.
Se algo me contraria faço de conta que apenas e tão somente a felicidade existe. A tristeza pode se manifestar. No entanto o mal estar tento afugentar de dentro do meu eu. Mas por vezes ele vem. Nesse vai e vem da vida. Nesse redemoinho que faz águas girarem tentando me levar ao fundo. Mas sempre procuro a superfície. O claurume dos dias. Mesmo que a cinzentice impere. Nuvens cinzentas tentem ofuscar a luz do sol.
Tenho um amigo, gente da prateleira de cima, que cuida de minha casa beira represa do Funil.
Quando ele me liga logo me vem à cabeça noticias ruins. Com aquele vozeirão trovoento ele diz: “doutor. A roçadeira quebrou em cacos. Estava roçando o pasto sujo e ouvi um estalido. Agora não faz mais sentido consertá-la de novo. Ah! Já ia me esquecendo. A sua égua linda enroscou a pata dianteira num cipoal. Ela manca agora. Vou esperar o dia de amanhã. Se não melhorar vou ter de levar ela num veterinário. Tomara ela melhore”.
Seu nome é Tom Zé. Nome que tomei emprestado ao seu de verdade- Antonio José Pedroso.
Ele mora só. Num casarão semi abandonado que pelas minhas contas deve ter quase duzentos anos de idade.
Ali junto dele moram escorpiões, morcegos mal encarados, traças e cupins. Ratazanas que mais se parecem a capivaras de bom tamanho. Que em absoluto não o incomodam e nem vivem às turras como marido e mulher desequilibrados.
Tom Zé é de um bom humor incomparável. Ele sorri mesmo nas adversidades.
De poucos estudos ele faz de tudo um cadinho. Mestre enxadachim de primeira. Usa a foice como se fosse uma espada nas mãos hábeis de um esgrimista. No trator não faz feio. Como mecânico não deixa nada a desejar.
De vez em quando a ele peço que lave minha caminhonete sempre imunda de cocô de vaca. E ele, num átimo de segundos, deixa ela branquinha como quando saiu de fábrica.
Acostumado a solidão nunca o vi reclamar da vida. Tem pela filha linda o maior chamego.
Estúrdia, era um sábado perdido na folhinha, quando ali apeei, de supetão. Topei com ele contrariado.
Aconteceu um imprevisto. Quando ele estava lavando a varanda da minha casa faltou água. Ele excomungava contrariado. E como ele aprecia coisa limpa. A cozinha da sua morada sempre reluz a brilho. As tábuas corridas são de fazer inveja a limpeza. O quarto onde ele finge dormir num velho colchão de palha que de vez em quando é trocada quando a palhada da roça de milho seca nunca vi um rato sujismundo.
Um radinho de pilha mora no criado falante de sua cama. A sua música preferida tem a sonoridade de uma Roberta Miranda em seus melhores anos.
No sábado que se avizinha vou pedir a ele que faça um churrasco. Mas que tenha mais cuidado com o sal que passou da conta na derradeira vez que tivemos de fazer de conta que a carne estava ótima. Senão ele iria ficar triste e não iria mostrar a sua dentadura novinha em folha.
Tom Zé pra mim é uma pessoinha de alma purinha como anjinho que perdeu as asinhas.
Ele sempre sorri. Mesmo sujeito a atropelos. Vivendo e convivendo entre quatro paredes gastas pelos anos. A espera de um amor que nunca vem.