O comprimento de nossos passos depende da medida de nossas pernas.
E a velocidade que impomos a nossa vida está intimamente ligada à pressa que nos consome.
Quando a gente pode dizer: “missão cumprida?
Quase ao final de nossa passagem aqui na terra? Na véspera de fecharmos os olhos para sempre?
Ou quando vemos nossos filhos e netos emancipados? Ao final de nossa carreira depois de anos e anos de trabalho duro?
Pra mim a vida está apenas no começo. Embora tenha passado dos enta ainda me sinto um menino. De calças curtas e idéias alongadas. Brincando naquela mesma rua que daqui se avista na negritude dessa quase madrugada. Afinal meu relógio assinala bem antes das seis.
Aquele menino travesso faz de conta que mora em mim. Conto anos e não desenganos.
Minha missão está longe de terminar.
Dentro de mim mora uma infinitude de sonhos. Sonhos bons entremeados de pesadelos.
Durmo o suficiente para acordar a mesma hora. O travesseiro me enxota a mesma hora costumeira. A cama não me tolera além das cinco e meia.
Daí a minha compulsão em encompridar minha vida muito além da idade onde me encontro.
Não conto horas. Nem ao menos minutos e segundos. Dias passarinham e nem os vejo voar.
Minha missão aqui nesse planeta está longe de terminar.
Já fiz dois filhos em consórcio com minha mulher. Netos foram três. Penso serem eles a minha continuação. Se pudesse estender minha vida além do que possa imaginar quantos anos mais me restariam? Uma infinidade deles. Um número expressivo que extrapolaria mais de não sei quantos.
Ainda pretendo. Não seria muita pretensão de minha parte. Editar mais alguns livros. Agora vejo vinte e um as minhas costas. Quantos mais escreverei?
Não tenho mais a missão de agradar ninguém. Se sou do agrado de alguns muito bem. Mas se desagrado a terceiros pra mim dá no mesmo.
Não me passa pelas idéias a missão de ser tido alguém em quem possa confiar. Mas tudo fiz, na minha vida profissional, para não enganar nenhures. Se emiti uma opinião nela cria de verdade. Sempre fui contra as falsidades e falácias desnecessárias.
Minha missão só vai terminar quando a saúde me abandonar. No momento ingrato em que não puder caminhar. Ao me amuletar ai sim. Podem me alijar de mim.
Conto anos. Eles passaram de setenta. Mas me sinto como se tivesse vinte. Ou menos ainda.
Missão cumprida quando?
Pretendo encompridá-la por muitos anos ainda. Até quando, me pergunto.
Só irei cumprir minha missão aqui na terra quando ela me engolir. Quando eu não mais existir. Quando deixar de respirar e sentir, aqui dentro, a inspiração me abandonar. Meu coração não mais tiquetaquear.
Minha missão estará cumprida numa hora a ser acertada com os ponteiros do relógio.
Pra mim há de ser nunca. Quando eles pararem de ir adiante. E de comum acordo comigo retrocederem sine die.