Avizinhavam-se as eleições.
Nomes disputavam a preferência dos eleitores.
Entre todos nenhures era o preferido. Pois todos eram afanadores do dinheiro alheio.
O descrédito se mostrava na boca de todos.
Candidatos se arvoravam dizendo serem os melhores. Mas quem diz que entre todos quem seria o menos ruim?
Chico da Tiana se lançou candidato a edil. Mas nunca foi nada além de um reles borra botas que vivia às turras com seus parentes que nem iriam votar nele mesmo. Era um pinguço que sempre era visto trocando as pernas nas ruas daquela pequena comarca. De má fama por nunca ter trabalhado senão fazendo bicos nas horas de ócio que eram as suas preferidas.
Zé da Miquelina era outro candidato. Ainda pior que o primeiro. Sempre desocupado a falar da vida dos outros. Nunca se o viu num emprego fixo. De má fama foi acusado de importunação sexual. Tendo passado duas noites em claro na escuridão de uma cela infecta na cadeia do município.
Mas o pior de todos ainda estava por vir. Ao cargo maior da comunidade se lançaram dois candidatos a prefeito. Zé Jurubeba e Carlinhos de todas as horas.
Zezinho era um pilantra que aplicava golpes pelas redes sociais. Era mestre em contravenções várias. Apelidado Zé Jurubeba por acreditar nos poderes medicinais daquela plantinha que nasce sem ser plantada. Vendia e revendia rifas cujas prendas nunca eram ofertadas aos ganhadores. E, na véspera das eleições saía distribuindo flores murchas as damas da cidade. Era um safado que infelizmente nunca foi punido exemplarmente pelas autoridades. E ficava isento de culpa até que se provasse o contrário.
Já o tal Carlinhos, se possível fosse, era pior ainda. Solto da prisão. Onde passou grande parte de sua vida bandida. Livre por bom comportamento. Era um traficante reconhecido por vender drogas na periferia. Era um bandido da pior estirpe. Mas, nesse pais onde larápios reconhecidos podem se candidatar inclusive a presidente. Por que não o tal Carlinhos de todas as horas não poderia? Naquela hora, ser mais um candidato a postular a ser prefeito?
Dito e mal feito.
Eis que outubro chegou. Deixando as águas de março cederem lugar a outros verões.
A oposição, debalde, tentava impugnar a candidatura dos dois preclaros safados. Ambos não tinham ficha limpa. As duas eram mais sujas que pau de galinheiro a seguir de uma noite inteira de duas dúzias de galinhas empoleiradas com diarréia.
E agora José? Com os dois canditados impugnados em quem votar?
Zé Jurubeba foi conduzido a detenção. E nem teve como pagar a fiança já que não tinha grana.
Carlinhos das horas incertas voltou pra onde veio. A cadeia o esperava de grades abertas. Ainda lhe restavam alguns anos a cumprir.
Acontece, naquele momento de indefinição total, não havendo outros postulantes a prefeito.
Quem se lançou candidato?
Entre todos a escolha era de difícil decisão.
Naquela encruzilhada malograda. Quando a população se dividia entre tudo e o nada.
Adivinhem quais foram os postulantes ao cargo maior da comunidade?
Chico da Tiana e Zé da Miquelina foram a salvação da lavoura.
De edis, que nunca foram, passaram a ser candidatos ao pátio maior da prefeitura.
A campanha começou com a fala no palanque do velhaco Chico da Tiana.
Analfabeto de pai, mãe e avós, Chico começou e terminou seu discurso desse jeito desajeitado: “meu povo. Voismecês num tem outro jeitim de votá mio. Do piozinho, pro menos pio. Fica comigo memo”.
Não sei se o povo ficou. Mas eu fico estarrecido quando penso nas eleições que se avizinham.