Você já se imaginou numa ilha deserta. Longe de tudo e de todos. Isolado do resto do mundo.
A ver navios singrarem ao longe. E você, desejando voltar à civilização. E não vê gente desde anos passados. Acena com uma bandeira feita com restos de pano que sobrou de sua camisa agora feita andrajos. Mas o tal navio se afasta cada vez mais. E logo desaparece na linha do horizonte. Mal se deixando ver à distância.
Ou então. Perdido num lugar longínquo. Impedido de receber visitas por sua opção. Já com saudade da civilização. Apenas e tão somente a escutar o canto dos pássaros. O vôo das andorinhas em bando a pousar no fio de luz. Privado da eletricidade por não ter pago a conta de luz. A se guiar nas noites escuras pelo pisca pisca frenético dos vagalumes. Pelo clarume da lua na sua troca com a luminosidade do sol.
Sem ao menos poder abraçar os amigos. Desiludido com a raça humana pensando encontrar abrigo entre os animais. Por considerá-los seus iguais. Mas não são. De repente lhe consome um desejo imenso de voltar à cidade. Mas não sabe como. Pois desconhece de onde veio. Se vai. Se volta. E acaba se revoltando consigo mesmo. Por tanta soberba e falta de reconhecer seu próprio erro.
Nessa encruzilhada do destino quase comete um desatino. Por sorte. Ou seria por azar. De arma engatilhada em punho essa mesma arma falha. E o tiro sai pela culatra e acaba matando um passarinho errante. E a pobre avezinha acaba tombando inerme ao chão. Mortinha da silva embora seja apenas uma rolinha que, incauta pousava num galho fino da jabuticabeira que já deu frutos.
Voltando ao título da minha história, que parece não ter pé ou cabeça. Se vocês quiserem leiam o que vai escrito dantes. Vou relembrá-los a todos- até que não foi tão ruim.
Pra alguns o ruim não é tanto. Pra outros o melhor deixa de ser ruim. Entre ruim e péssimo mora uma distância enorme. Um fosso profundo da fundura do mundo.
Passamos o carnaval à beira lago num local que me lembra o paraíso.
Numa casa com todo conforto. Uma piscina de águas azuis nos intimava ao banho.
De vez em quando chovia. Uma chuvica mansa que não nos impedia de caminhar à beira lago.
Cercados de meninos endiabrados. Meus netinhos faziam de mim gato e sapato.
Enquanto eu tentava me esquivar de suas diabruras eles me encontravam. Eram mais rápidos que seu avozinho marcha lenta.
Ali faltou eletricidade. A internet se fez ausente. Felizmente. Seus tablets não funcionaram. Os celulares emudeceram. A televisão foi desligada da tomada.
Sem luz, sem internet, sem ao menos uma patinete motorizada. Como aquietar as crianças?
Elas não estavam acostumadas à quietude daquele lugar magnífico.
Só nos restava uma partida de futebol num campinho cambeta com uma bola murcha que de vez em quando furava graças às mordidas do Pirunguinha meu cãozinho que vive por ali a correr atrás das marolinhas que se formavam nas águas límpidas da represa de Camargos.
Eram dois times. O de Belo Horizonte e o de Lavras. O nosso estava em desvantagem por ser em menor número. Os moleques de Belô já estavam mais que treinados. Os de aqui eméritos pernas de pau.
Perdemos quase todas as partidas. O placar sempre nos foi desfavorável.
Fora o Gael. Jogador de mancheia, euzinho que nada sei de futebol, perdemos quase tudo. Menos a minha crock que continua inteira. Quase.
Sem luz. Sem internet. Sem televisão. Sem tablets ou celulares. Pensava ser impossível viver.
Acabou-se o azedume do carnaval. Passamos dias lindos por ali.
Até que não foi tão ruim assim. Não podia ser melhor, pra mim.