Até parece um contra censo.
Pois subentende-se por muvuca uma aglomeração ruidosa e ao mesmo tempo onde a desordem toma conta do lugar. Azáfama pra mim dá no mesmo. Bagunça, confusão e tumulto são sinonímias que ensejam a mesma coisa.
Essa palavrinha pra mim muito simpática tem origem indígena. Que tem o significado de mistura. Trata-se de um amontoado de sementes que serão lançadas à terra onde serão semeadas. E espera-se que darão bons frutos. Já que aqui, na nossa linda Terra Brasilis, em se plantando tudo dá. Inclusive corrupção.
Estamos quase no ocaso do carnaval. Nessa terça feira celebra-se o derradeiro dia da folia. Mas há quem estique um bom bocado.
No meu entender. E de muitos metidos a entendedores. Corre o dito: o melhor dia do carnaval é quando ele termina. Na metade seguinte á quarta feira de cinzas. Quando em verdade começa o ano de fato. Até então foi apenas um ensaio. Tomara que todos voltem ao trabalho na tarde seguinte. E joguem cinzas na ressaca para o que o fogo apague.
Eu já fui um folião mais comportado. Não me lembro. Nos meus muitos anos. De quando cheguei a casa trocando as pernas mal conseguindo fazer um quatro. E minha saudosa mãezinha logo cheirava a minha boca para saber o grau de álcool que eu havia tomado,
Mas se perguntarem ao meu amigo Tião Muvuca qual o seu conceito sobre carnaval ele vai te responder: “ah! Pra mim tanto faz como tanto fez. A última vez que lá fui foi um zoeira danada. Acabei preso uma semana inteira. E quando me soltaram ainda tive de pagar do meu bolso um engradado de cerveja para o guarda safado”.
Hoje o velho Tião perdeu a mocidade. Enveredou-se pelo caminho certo. Tornou-se pastor.
Quando vem chegando o carnaval ele faz o sinal do cruz credo. Benze e se persigna. E vai pro mato cumprir penitência.
Passa uma semana inteirinha sem ao menos ouvir uma musiquinha qualquer. Isola-se de tudo e de todos. E faz jejum até a folia terminar.
Tudo ia bem até esse carnaval que ora termina.
Ele, pobre dele, foi levado à contra gosto de um desgosto, contra a sua vontade. Poder-se dizer a laço, à cidade onde morava de vez em quando.
Um amigo da onça foi com ele, na garupa de uma moto sem licença de trafegar.
E chegaram direto a uma mesa de bar.
O tal amigo, das horas incertas, contumaz beberrão, acostumado às noitadas só tinha um único interesse intereresseiro. Tirar do seu bolso vazio o pago para tomar todas. E assim o fez.
Lá pelas tantas, já passava da meia noite, Tião não se aguentava mais.
E na hora de pagar a conta faltou grana. Ficar no pindura não podia. Fiado nem amanhã de noite.
Foi chamada a policia para resolver o imbróglio.
Tião, mal conseguindo se explicar acabou pagando o pato.
E foi mais uma vez levado ao xilindró.
Nessa hora a folia varava a madrugada. Uma turba ululante (entendam-não eram eleitores do presidente). Ao verem o pobre Tião sendo conduzido à delegacia interceptaram o cortejo.
E disseram à comitiva que Tião era inocente. Seu único pecado era ter sido conivente.
Nessa hora o velho Tião nem sabia a hora. A muvuca se formou. O amigo da onça do Tião foi quem pôs ordem na muvuca.
A partir de então ela se tornou mais organizada.
Tião Muvuca renegou, mais uma vez, a tal folia momesca. A qual já havia desconjurado antes.
Quando a ele perguntam: “você, Tião, aprecia carnaval”?
Ele logo responde: “pra mim o melhor dia é quando ele termina. Bendita quarta feira de cinzas”.
Pra mim também.